Fragmentação da Amazónia está a alterar a forma das próprias árvores
A Amazónia é considerada um local rico em diversidade, quer biológica, quer cultural. Além de vários povos humanos que fazem da floresta tropical as suas casas e vidas, estima-se que, pelo menos, 40 mil espécies de plantas, 427 de mamíferos, 1.300 de aves, 378 de répteis, 400 de anfíbios e 3.000 de peixes possam ser encontradas nesse bioma.
Pelo menos no que toca à Amazónia brasileira, a desflorestação tem vindo a diminuir nos últimos tempos, sob a presidência de Lula da Silva. Calcula-se que em novembro tenha diminuído 63,7% face ao mesmo mês do ano passado. Ainda assim, as ameaças mantêm-se e podem estar a ter impactos que passam despercebidos.
Uma investigação divulgada na revista ‘Nature Communications’ revela que a desflorestação da Amazónia está a mudar a própria forma das árvores que ali vivem. Com a perda de cobertura florestal, mais luz solar incide sobre áreas onde antes mal conseguia penetrar a densa canópia.
Assim, as árvores que passam a estar na fronteira entre áreas desflorestadas e zonas arborizadas são diferentes das que vivem em áreas onde a densidade florestal é maior.
Eduardo Maeda, da Universidade de Helsínquia, na Finlândia, e um dos investigadores deste trabalho, afirma, em comunicado, que, embora as árvores nos limites de áreas desflorestadas possam ter troncos mais grossos, porque recebem mais luz solar, não são capazes de reter tanto dióxido de carbono. Isso, porque, devido a uma menor disponibilidade de água e a maiores temperaturas, tendem também a ser mais pequenas do que as árvores em zonas interiores.
Isso faz com que a capacidade de sequestro carbónico das manchas florestais que confrontam com áreas desflorestadas seja reduzida até 20%.
Além disso, pode haver uma maior produção de madeira do lado da árvore que está mais exposta ao sol, aumento o risco de queda.
Para que se possam tomar as decisões mais acertadas no que toca à conservação da Amazónia, e de outras florestas, os investigadores consideram fundamental saber como as próprias árvores reagem à desflorestação e à combinação dessa destruição com os efeitos das alterações climáticas.