Só a adaptação sustentável aos efeitos das alterações climáticas pode ter sucesso



A adaptação aos efeitos das alterações climáticas é tão necessária quanto a redução de emissões para melhorar as condições de vida no planeta, mas para ser bem-sucedido o ajuste deve ser sustentável, defende um novo estudo.

“Adaptar-se com sucesso aos impactos das alterações climáticas é tão difícil e desafiante quanto reduzir emissões de todos os tipos. Ainda assim, ambos são necessários”, diz Anita Engels, autora principal do relatório “Hamburg Climate Futures Outlook 2024”, do departamento de “Clima, Alterações Climáticas e Sociedade” (CLICCS, na sigla original), da Universidade de Hamburgo.

Segundo um comunicado desta universidade da Alemanha, numa altura em que as alterações do clima obrigam as pessoas a adaptarem-se a novas condições ambientais “o que faz a diferença” é o modo como o fazem e o estudo “mostra que, a longo prazo, apenas a adaptação sustentável pode ter sucesso”.

Com base em nove estudos de caso em diversos contextos geográficos, incluindo Nepal, Namíbia e Baixa Saxónia, Hamburgo e Frísia do Norte, na Alemanha e ainda São Paulo (Brasil), Cidade de Ho Chi Minh (Vietname), Taiwan e Maldivas, os investigadores do CLICCS analisaram uma ampla gama de medidas de adaptação em resposta aos riscos climáticos.

“Nenhum dos casos avaliados pode ser considerado atualmente como um exemplo de uma estratégia de adaptação sustentável. No entanto, Hamburgo, Frísia do Norte e a Cidade de Ho Chi Minh demonstraram abordagens iniciais para uma adaptação transformadora”, refere o comunicado.

As equipas de investigação, que incluíram cientistas dos contextos analisados, identificaram as principais condições para uma adaptação climática sustentável e o trabalho integra “recomendações práticas”.

“Quando a adaptação não é suficientemente pensada, os efeitos colaterais podem anular as melhorias”, assinala Beate Ratter, outra das autoras da avaliação, citada no comunicado.

Por exemplo, medidas de proteção costeira mal escolhidas podem ajudar a combater inundações no imediato, mas, a longo prazo, também podem levar à perda de sedimentos estabilizadores ou prejudicar os recifes de corais que protegem as costas. Do mesmo modo, as florestas que são restauradas com monoculturas são especialmente vulneráveis a pragas e incêndios.

O relatório classifica as medidas de adaptação em três categorias: enfrentamento – respostas diretas a crises como inundações ou secas; incrementais – preventivas, seguidas passo a passo para evitar ou para mitigar impactos climáticos no futuro próximo; transformadoras – que produzem efeitos de longo prazo, reduzem riscos e são desenvolvidas e aplicadas em conjunto pela população local.

Este último tipo de medidas “produz o mínimo possível de emissões adicionais e tem por base os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, para não causar estragos em outros lugares. Por exemplo, preservam a biodiversidade e conservam os recursos naturais”.

O relatório chama a atenção para a urgência da adaptação, tendo em conta “a combinação das alterações climáticas com a variabilidade climática natural”, que já provoca “efeitos significativos nos ecossistemas e economias”.

“No futuro, fenómenos climáticos extremos podem ocorrer também em combinação ou em grupos”, diz Jochem Marotzke, igualmente autor do trabalho. “Isso significa maior risco com efeitos potencialmente devastadores. Precisamos de tomar medidas para nos prepararmos o mais rápido possível.”

A análise reafirma que, simultaneamente, as emissões de dióxido de carbono (CO2) precisam de “ser reduzidas de forma rápida e consistente”, lamentando os investigadores o “pouco progresso” que se tem registado.

Tal deve-se fundamentalmente às estratégias empresariais, às tendências de consumo e ao facto de ainda se investir demasiado em combustíveis fósseis.

Anita Engels diz que continua a ver-se “investimentos massivos em petróleo, gás e carvão”, defendendo que “os investidores deveriam ser convencidos de que, a longo prazo, os seus investimentos em combustíveis fósseis não compensam”.

Neste caso, os investigadores consideram que a solução passa por “normas juridicamente vinculativas e condições políticas estabelecidas por países individuais, em ligação com as negociações no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas.





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