Ex-ministro da Economia classifica transição energética em Portugal como “muito interessante”
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O ex-ministro da Economia e do Mar António Costa Silva classificou hoje o processo de transição energética em Portugal como “muito interessante”, mas disse que ao nível mundial “muita coisa mudou para pior” em termos de clima e ambiente.
“Portugal, nesse aspeto, tem feito uma transição energética muito interessante, porque a matriz energética portuguesa no início do século tinha 89% de dependência dos combustíveis fósseis e hoje é 65%”, explicou, salientando, no entanto, que este esforço não deve ser apenas de um ou dois países, mas de toda a humanidade.
António Costa Silva falava numa conferência intitulada ‘Merecer o futuro’, no âmbito da ‘Funchal Climate Week’, uma iniciativa promovida pela Câmara Municipal do Funchal, na qual interveio na qualidade de professor do Instituto Superior Técnico.
Esta é a segunda edição da ‘Funchal Climate Week’, sendo que a primeira se realizou há 17 anos, em 2008, com foco na análise do estado do planeta e nos desafios que a espécie humana enfrenta em matéria de clima e ambiente.
“Mudou muita coisa e muita coisa mudou para pior”, disse António Costa Silva, lembrando que as emissões de dióxido de carbono (CO2) do planeta no ano 2000 eram cerca de 25 mil milhões de toneladas e no ano passado atingiram 37 mil milhões de toneladas.
“Apesar dos acordos internacionais, das reuniões, não estamos a conseguir diminuir as emissões”, avisou, considerando que “a matriz energética mundial continua com uma grande dominação dos combustíveis fósseis.”
O ex-ministro da Economia e do Mar no governo socialista liderado por António Costa alertou também para o facto de o novo presidente do Estados Unidos, Donald Trump, desvalorizar as questões ambientais e climáticas, apesar de a Organização Mundial de Meteorologia ter anunciado que 2024 foi o ano mais quente de sempre.
“Infelizmente, quando olhamos para o mundo, temos crescente fragmentação, quer geopolítica, quer geoeconómica, quando a espécie humana devia aprender com os erros do passado, unir-se, ter mais cooperação internacional”, defendeu, argumentando que “não estamos a aprender nada e a cooperação internacional está a falhar”.
António Costa Silva disse mesmo que a cooperação internacional “está a falhar a um grau inadmissível” e sublinhou que “a maior ameaça existencial” para o futuro da vida no planeta “é exatamente a mudança climática”.
“Eu sou das pessoas que acreditam que temos de lutar sempre para o futuro ser diferente e cada décima de temperatura que precisamos de baixar com as nossas ações é extremamente importante”, alertou.
O professor do Instituto Superior Técnico considerou ainda que o atual modelo económico mundial é a base de todos problemas relacionados com o clima e o ambiente, pois assenta no “consumo frenético de recursos”, que depois são transformados em lixo, gerando desigualdades e a devastação ambiental do planeta.
“Temos de ter um modelo económico baseado na bioeconomia, com recurso a bioplásticos, biofertilizantes, e apostar na economia circular”, defendeu.
António Costa Silva alertou também para a subida do nível do mar, que decorre do aquecimento dos oceanos, situação que, segundo disse, está a afetar muito toda a costa de Portugal continental e ilhas como a Madeira.
As conferências de hoje da “Funchal Climate Week”, último dia do evento, são moderadas por Viriato Soromenho-Marques, professor da Universidade de Lisboa, e contam, além de António Costa Silva, com a participação de Luísa Schmidt, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e José Manuel Lima Santos, do Instituto Superior de Agronomia.