Associação Zero quer renaturalização no futuro Plano Nacional de Restauro da Natureza
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A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável apelou hoje para a que renaturalização “figure como opção válida” e de “baixo custo e muito eficaz” no futuro Plano Nacional de Restauro da Natureza para “restaurar ecossistemas à escala de paisagens”.
Num comunicado divulgado a propósito da celebração, na segunda-feira, do Dia Mundial da Vida Selvagem, a associação explica que a renaturalização “reconhece a capacidade que a natureza tem para regenerar quando lhe é permitido o tempo e o espaço necessários para tal”.
A renaturalização, ‘rewilding’ em inglês, “coloca o foco em restaurar processos naturais – ciclos de nutrientes, ciclos naturais do fogo, predação – e deixar que estes deem forma às paisagens terrestres e marinhas de forma dinâmica”, aponta o texto.
Mas, salienta a Zero, “para consegui-lo, a abordagem ‘rewilding’ trabalha lado a lado com as comunidades locais, para que o restauro dos ecossistemas beneficie a sociedade e crie economias baseadas na natureza que tragam novas oportunidades para os territórios”.
Pelo que os ambientalistas defendem ser “necessário que se começasse por testar e avaliar um novo modelo de cogestão das Áreas Protegidas, em que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas passe a atuar como promotor, avaliador e fiscalizador das ações de conservação da biodiversidade, recorrendo à contratualização de entidades externas para executar a gestão”.
A Zero aponta ainda estudos sobre a “forma como certas espécies-chave podem realizar funções na paisagem que evitam custos de gestão humana”, como, por exemplo, um estudo sobre o potencial económico do regresso da cabra-montesa (Capra pyrenaica) a novas regiões de Portugal que “concluiu que os benefícios associados à presença da espécie na paisagem superam os custos, e que os efeitos globais sobre a paisagem são positivos, favorecendo outras espécies ao mesmo tempo que criam novas oportunidades de ecoturismo”.
Como exemplo de renaturalização em curso em Portugal, a Zero aponta o Grande Vale do Coa: “Além dos benefícios do restauro ecológico, esta paisagem está também a beneficiar de um aumento de ecoturismo potenciado pela criação da Rede Côa Selvagem, uma rede com mais de 60 parceiros do setor turístico e de produtores locais que tem vindo a melhorar a oferta local, numa abordagem ambiciosa e com visão de futuro para o território”.
“É urgente avaliar o potencial de ‘rewilding’ em outras áreas de Portugal, Madeira e Açores, identificando oportunidades para dar resposta às metas da Lei de Restauro”, apela a Zero.
E continua: “Perante o contexto nacional, em que a degradação da qualidade dos habitats e declínio do estatuto de conservação e da abundância de múltiplas espécies continua sem abrandamento visível, o ‘rewilding’ como abordagem de gestão da paisagem – combinada com a remuneração dos serviços de ecossistemas aos proprietários rurais – traz benefícios claros para recuperar paisagens degradadas e reforçar a qualidade de vida das populações locais, hoje prejudicada pelas políticas públicas”.
Mas, alerta a Zero, “esta abordagem exige uma visão diferente dos decisores políticos que encaram os territórios predominantemente como espaços de extração de recursos naturais (água, madeira, massas minerais) e de produção de energia, sem a devida preocupação com os impactes ambientais resultantes da artificialização dos solos ou com a qualidade de vida das populações locais no longo prazo”.
“É, pois, necessária uma mudança de atitude face à conservação dos valores naturais e um olhar mais crítico ao que é, de facto, sustentabilidade”, apelam.