Mineração em mar profundo: Plumas de sedimentos podem viajar quilómetros e alterar condições dos habitats



A extração de minerais do leito marinho tem sido objeto de grande discussão, quer a nível nacional quer nacional. Os defensores dizem que é fundamental para aceder a matérias-primas essenciais à transição energética, como cobalto, manganês e níquel, mas os opositores alertam para os impactos potencialmente devastadores dessa atividade para os ecossistemas marinhos.

A Ciência, por seu lado, diz-nos que ainda se sabe muito pouco sobre as profundezas dos oceanos e, por isso, é difícil antever, com precisão, quais as consequências ambientais e ecológicas da mineração em mar profundo. Como tal, vários países, incluindo Portugal, declararam moratórias a essa atividade até que haja um consenso, científico e político, mais alargado sobre o tema.

Um novo estudo, liderado pelo GEOMAR – Helmholtz Centre for Ocean Research Kiel e publicado na revista ‘Nature Communications’, centro de investigação oceânica sediado em Kiel, na Alemanha, vem revelar que a mineração em mar profundo pode ter efeitos que antes não se pensava que pudesse ter.

Nas planícies abissais oceânicas, entre os três mil e os seis mil metros de profundidade, os depósitos de minerais estão espalhados por milhões de quilómetros quadrados, tendo-se formado ao longo de milhões de anos a partir de metais dissolvidos na água marinha ou como resultado da atividade microbiana. Por de terem desenvolvido em condições extremas, e albergando uma grande diversidade de vida, estes habitats são altamente sensíveis a perturbação. E a extração mineral pode causar grandes tumultos nas zonas mais recônditas dos oceanos.

Através da monitorização da atividade de um pré-protótipo de robot coletor de minerais na Zona de Clarion-Clipperton, no leste do Oceano Pacífico, os investigadores analisaram as densas plumas de sedimentos provocadas pela atividade da máquina.

Embora tenham notado que a maioria dos sedimentos das plumas voltam a pousar a umas centenas de metros de distância do local de origem, os cientistas perceberam que parte dos sedimentos levantados podiam viajar até 4,5 quilómetros, arrastados pelas correntes oceânicas.

Ao estudarem de perto o movimento do robot, viram que a pluma levantada pela máquina aumentava a concentração de sedimentos em até 10 mil vezes, comparando com o que aconteceria em condições normais, sendo que a concentração de sedimentos voltava ao normal após 14 horas. As partículas mais finas, por outro lado, eram capazes ficar suspensas a vários metros do leito oceânico, sendo transportadas para outras áreas a vários quilómetros de distância.

Este estudo reforça a ideia, já amplamente defendida no meio científico, de que a atividade de extração de minerais nas profundezas marinhas pode alterar a estrutura e condições desses habitats delicados e afetar a biodiversidade que neles reside. Contudo, o conhecimento sobre o fundo do mar e sobre os impactos da mineração é ainda escasso, pelo que são precisos mais dados para que se possa avaliar, com um mínimo grau de certeza, os possíveis efeitos dessa atividade, numa altura que vários olhos, de governos e de empresas, estão postos nas zonas abissais dos oceanos.





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