Devolver tubarões depois de captura acidental pode não ser suficiente para travar declínio das espécies

Os tubarões e as raias são dos grupos de animais marinhos mais ameaçados do planeta, sobretudo por causa da pesca excessiva, sendo a captura acidental um dos principais fatores de pressão sobre esses elasmobrânquios.
Estima-se que quase um terço de todas as espécies de tubarões corram, globalmente, risco de extinção, razão pela qual os cientistas acreditam que, apesar dos nossos medos inspirados por filmes de ficção científica, os tubarões têm mais a temer de nós do que nós deles.
Por isso, alguns países têm adotado leis que impedem que, depois de capturado acidentalmente nas artes de pesca, um tubarão seja retido, obrigando, assim, à sua devolução imediata ao mar. Essas medidas têm como objetivo atenuar os impactos da pesca nas populações de tubarões, mas podem não ser suficientes.
Portugal é um desses países, em que, por força da legislação europeia, é proibida a captura e retenção de tubarões, com a exceção do tubarão-anequim-de-barbatanas-longas (Isurus paucus).
Num artigo publicado este mês na revista ‘Fish and Fisheries’, investigadores dos Estados Unidos da América (EUA) e do Canadá avisam que a obrigação de devolução de tubarões capturados acidentalmente não chegará para travar o contínuo declínio desses predadores oceânicos.
Darcy Bradley, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA) e uma das principais autoras do estudo, explica que, embora a pesca vise algumas espécies de tubarões, mais de metade desses animais são “apanhados acidentalmente e depois descartados”, muitos deles já mortos.
Este trabalho teve por base a análise dos dados de mais de 150 artigos e relatórios publicados sobre a mortalidade de tubarões em contexto de pesca, abrangendo quase 150 espécies.
Os resultados mostram que as espécies mais pequenas e as mais ameaçadas são aquelas com maiores probabilidades de morrerem após serem capturadas, incluindo tubarões-martelo. Os investigadores dizem ainda que as espécies que dependem do movimento para respirar (precisam de estar em constantemente movimento para fazer a água passar pelas suas guelras) são também das que têm maiores níveis de mortalidade após captura.
Os cientistas estimam que as proibições de retenção podem ajudar a reduzir em três vezes a mortalidade dos tubarões depois de acidentalmente apanhados nas redes de pesca, mas dizem que isso não será suficiente para salvar populações de tubarões já fortemente afetadas pela captura, como so tubarões-anequim e os tubarões-seda (Carcharhinus falciformis).
Embora reconheçam a importância das proibições de retenção, os autores deste artigo dizem que é preciso que essas medidas sejam articuladas com outras, como restrições de pesca em certas áreas (como zonas de reprodução), quotas de captura para um maior número de espécies e alterações nas artes e equipamentos usados na pesca, bem como modificação de práticas.