Estruturas culturais concordam que devem participar na transição ecológica



Um inquérito a 140 estruturas de arte no país indicou que 90% dos inquiridos concordam com a ideia de que o campo de atividade da cultura deve participar nos esforços de transição ecológica.

O estudo “A parte pelo todo. Relatório do inquérito práticas ecológicas e sustentáveis nas artes performativas em Portugal”, a apresentar na sexta-feira, no Fundão, resulta de uma parceria entre o Centro de Estudos Interdisciplinares (CEIS20) da Universidade de Coimbra e a Direção-Geral das Artes.

Outra das conclusões do relatório, sustentada por 96% dos inquiridos, aponta que a arte e a cultura podem inspirar mudanças no domínio da ecologia e da sustentabilidade.

A percentagem é menor entre os que concordam com a possibilidade de as questões da sustentabilidade serem incorporadas nos critérios de financiamento público no domínio das artes e da cultura, 77%.

“Mesmo sendo um estudo exploratório, conseguiu perceber que esta ligação, este nexo entre a emergência ecológica e a política cultural, era visto pelos profissionais da cultura como legítimo e como urgente”, sintetizou, em declarações à agência Lusa, a coordenadora científica do inquérito, Vânia Rodrigues.

Segundo a responsável, que liderou a investigação conjuntamente com Fernando Oliveira, o primeiro objetivo foi ter uma noção “das práticas, das perspetivas e escutar os profissionais acerca deste tema, para tentar que Portugal possa participar também de forma qualificada e sistematizada desse debate que tem atravessado a Europa”.

Mas Vânia Rodrigues alertou que embora o estudo exploratório tenha reforçado a ideia de que o setor cultural deve participar nesta discussão, também permitiu identificar contradições e paradoxos.

A investigadora sublinhou a importância do inquérito para “atualizar criticamente um discurso que por vezes é simplista acerca da responsabilidade individual das instituições culturais” e rejeitar “visões simplistas”.

“Dizer que o campo das artes e da cultura deve acompanhar este debate, deve procurar encontrar o seu lugar, é diferente de assumirmos acriticamente, por exemplo, que o setor tem uma responsabilidade carbónica idêntica a outros setores da sociedade”, ilustrou Vânia Rodrigues.

De acordo com a responsável, o estudo recorreu a respostas “qualitativas, abertas”, e permitiu perceber que nem toda a gente está a falar do mesmo quando se fala em sustentabilidade, uma “palavra que significa muitas coisas diferentes”.

Vânia Rodrigues salientou que para discutir o papel das artes e da cultura na perspetiva da responsabilidade pela destruição ambiental tem de ser de forma sistémica e não voluntarista, tem de ser “complexificando e não simplificando a questão”.

“Não é seguramente fazendo espetáculos sobre o clima que vamos mudar alguma coisa no planeta. Há abordagens simplistas que por vezes aparecem nos discursos que o estudo também vem desautorizar, dizendo o problema é mais complexo do que isso”, enfatizou.

O estudo apresenta “um conjunto amplo de recomendações” ao nível das intervenções de política pública, das quais a investigadora da Universidade de Coimbra destacou a importância de se criarem “oportunidades de reflexão e de formação”.

Outra é que as políticas públicas tenham atenção “ao contexto semiperiférico de Portugal e não se precipitem em fazer verter questões ambientais no âmbito concursal”.

“Que se preocupem primeiro em criar condições financeiras de combate à precariedade, por exemplo, que permitam às estruturas fazerem depois melhores escolhas ambientais, e não o contrário, não começar por obrigá-las a fazer escolhas ambientais antes de conseguirem ter a sua estabilidade financeira minimamente assegurada”, referiu Vânia Rodrigues.

O estudo é apresentado na sexta-feira, às 10:00, no Casino Fundanense, no distrito de Castelo Branco, e faz parte de um projeto mais amplo.






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