Flamingos criam “tornados aquáticos” para capturarem as suas presas

Avistamentos de grupos de flamingos a caminharem placidamente por zonas alagadas, com as cabeças submersas, podem parecer imagens relativamente tranquilas, mas, abaixo da superfície, pequenas “tempestades” agitam o leito aquático.
Um grupo de investigadores dos Estados Unidos da América (EUA) estudou como os flamingos-chilenos (Phoenicopterus chilensis) no Zoo de Nashville, no estado norte-americano do Tennessee, para tentar perceber como essas aves rosadas, com um dos sistemas de filtração mais sofisticados do mundo aviário, capturam as suas presas.
Os flamingos alimentam-se de partículas em suspensão na água e também de pequenos crustáceos, como copépodes, que nadam livremente. Para conseguirem apanhá-los, os flamingos têm de conseguir concentrá-los num só sítio e engoli-los de uma só assentada, porque capturam um a um seria fastidioso e exigiria muito mais tempo e energia.
Através de experiências em laboratório, para as quais treinarem flamingos para se alimentarem em tanques equipados com câmaras de vídeo e do estudo de modelos em 3D dos seus bicos e patas, os investigadores descobriram que as aves usam as suas patas para agitar os sedimentos no leito da área alagada e para os empurrarem para a frente em espirais. Ao agitarem as suas cabeças para cima e para baixo, os flamingos usam a força da deslocação da água para trazer essas espirais de sedimentos para perto da superfície, criando, no processo, pequenos tornados.
Por fim, vão abrindo e fechando rápida e continuamente os seus bicos em forma de “L”, formando vórtices ainda mais pequenos que encaminham os sedimentos e as presas diretamente para as suas bocas.
Para os autores do artigo que dá conta desta descoberta, publicado recentemente na revista ‘PNAS’, a confirmação deste comportamento deita por terra qualquer ideia de que os flamingos se alimentam passivamente, passando os seus bicos filtradores pela água e apanhando quais partículas ou crustáceos pelo caminho. Em vez disso, os resultados mostram que os flamingos caçam ativamente as suas presas.
“Os flamingos, na verdade, são predadores, estão ativamente à procura de animais que se movem pela água”, diz Victor Ortega Jiménez, da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) e primeiro autor do estudo.
Para o investigador, estas aves são animais filtradores “super-especializados”, com cabeças, pescoços, patas, bicos e comportamentos que lhes permitem, com eficácia, “capturar esses organismos minúsculos e ágeis”.