Alterações climáticas estão a permitir que tubarões nadem para águas mais distantes

À medida que os mares e oceanos se tornam mais quentes, fruto do aumento da temperatura da Terra e dos seus efeitos nas correntes marinhas, os tubarões podem nadar para águas muito mais distantes.
Em 2022, um grupo de cientistas acompanhou uma das viagens mais impressionantes alguma vez feita por um tubarão da espécie Carcharhinus leucas. O animal percorreu mais de 7.200 quilómetros desde as águas de Moçambique até à costa de Lagos, na Nigéria, a maior distância registada para a espécie, como revelado num artigo publicado na revista ‘Ecology’.
É a primeira vez que se documenta uma jornada tão longa, pois uma “barreira” de água fria ao largo da costa da África do Sul, criada pelos ventos que sopram da costa a água à superfície e permitem que a água mais fria assome, por norma afasta os tubarões.
Nicolas Lubitz, da Universidade James Cook, na Austrália, e um dos autores do estudo, explica, em comunicado, que dados genéticos indicam que espécies costeiras, como os Carcharhinus leucas nunca antes terão transitado do Oceanos Índico para o Atlântico devido a essa “barreira de água fria”, abaixo dos 19 graus Celsius, que se estima travar o avanço dos tubarões para oeste há mais de 55 mil anos.
No entanto, no final de março de 2022 um fenómeno “invulgar” ocorreu: entre os dois oceanos formou-se um corredor de água marinha com uma temperatura à superfície acima dos 19 graus Celsius. Com essa ponte “térmica”, o tubarão conseguiu fazer o que se pensava ser impossível.
Segundo Lubitz, a desregulação ou desaparecimento dessas barreiras ao movimento das espécies marinhas estão a ser causados pelas alterações climáticas, pelo que “o movimento transoceânico sem precedentes de tubarões” deve mobilizar a comunidade científica para que se possa compreender as suas causas e as suas consequências.
Num planeta com o clima em transformação, “isso ajudar-nos-á a compreender e a prever melhor as consequências das ruturas provocadas pelas alterações climáticas das barreiras ao fluxo genético e as futuras mudanças na distribuição das espécies”, argumenta o investigador.