Investigadores portugueses usam postais antigos para estudar evolução das praias de Cascais



Uma equipa liderada por cientistas do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa, recorreu ao que descreve como uma “metodologia inovadora” para estudar a evolução das praias. Usando postais antigos, conseguem olhar para o passado para compreender melhor o que se passa no presente.

Em colaboração com o U.S. Geological Survey, os investigadores transformaram postais turísticos e fotografias históricas em dados científicos sobre a evolução costeira.

O estudo, publicado na revista ‘Remote Sensing’, incidiu sobre a Praia da Conceição-Duquesa, em Cascais, para a qual se conseguiu reconstituir a linha de costa ao longo de 92 anos, recorrendo a imagens oblíquas captadas entre 1930 e 2022.

“Esta abordagem permite preencher lacunas históricas em períodos anteriores à existência de imagens aéreas e de satélites, aumentando a janela temporal da monitorização costeira”, diz a equipa em comunicado.

Postais antigos e outras imagens ajudam cientistas a estudar evolução da Praia da Conceição-Duquesa, em Cascais, ao longo de décadas. Foto: Valverde et al., 2025

Explicam os especialistas que esta metodologia baseia-se na georreferenciação de imagens comuns – tais como postais antigos, imagens pessoais e até fotos tiradas com o telemóvel – combinadas com técnicas de correção geométrica e deteção da linha de costa.

Ao cruzar informação de diferentes épocas, os investigadores conseguiram medir com rigor científico a evolução da praia ao longo de quase um século, avançam os cientistas Fátima Valverde, Rui Taborda, Amy E. East e Cristina Ponte Lira.

Entre outras coisas, o estudo permitiu identificar uma rotação da linha de costa a partir da data de construção da marina de Cascais, em 1998, com impacto na morfologia da praia. Esta alteração ultrapassa a margem de erro da análise e revela os efeitos de intervenções humanas passadas no litoral.

Para os cientistas, esta técnica revela-se particularmente útil em países como Portugal, onde muitos dos arquivos visuais do litoral permanecem por explorar e podem fornecer informação valiosa sobre a evolução costeira em zonas críticas.

“Esta abordagem abre novas linhas na investigação e na gestão costeira. Em vez de nos limitarmos aos dados das últimas décadas, podemos alargar a linha temporal de análise com base em imagens guardadas em bibliotecas, museus ou até coleções privadas”, explica Fátima Valverde, estudante de doutoramento e primeira autora do artigo.

Podendo ser replicada noutras áreas e estando praticamente ao alcance de todos, a metodologia pode ajudar os municípios e outras autoridades de gestão territorial a tomarem decisões mais informadas sobre erosão, proteção costeira e ordenamento do território, “num momento em que as zonas costeiras enfrentam crescente pressão ambiental e humana”, apontam os investigadores.

A equipa salienta a importância de cruzar conhecimento científico com património visual para responder a desafios globais, como o avanço do mar e a perda de zonas balneares, e espera agora expandir o uso desta metodologia a outros pontos do litoral português, contribuindo para um registo mais completo da transformação das praias nacionais e para estratégias mais eficazes de adaptação costeira.






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