Krill rejeita alimentos contaminados com microplásticos

Uma descoberta acidental feita por cientistas australianos sugere que o krill da Antártida — uma das espécies-chave do ecossistema marinho — pode ser mais seletivo do que se pensava, recusando alimentos contaminados por microplásticos.
A descoberta foi feita durante um estudo sobre a formação de “bolos alimentares” — massas compactas de alimento rejeitado que os krill libertam e que afundam rapidamente no oceano. Os investigadores procuravam compreender o papel deste comportamento na transferência de carbono para as profundezas marinhas.
Durante uma experiência em laboratório, uma das amostras de alimento foi acidentalmente contaminada com partículas de microplástico provenientes de uma esponja de limpeza. O resultado foi inesperado: os krill rejeitaram o alimento contaminado três vezes mais do que os restantes.
Apesar de este episódio não ter sido incluído nos dados finais do estudo, os cientistas consideram que a observação levanta questões relevantes sobre o impacto da poluição por microplásticos nos mecanismos naturais de transporte de carbono no oceano.
Bolos alimentares e o ciclo do carbono
Os krill, pequenos crustáceos abundantes nas águas da Antártida, têm um papel essencial tanto na cadeia alimentar marinha como no ciclo global do carbono. Além das fezes, que já se sabia ajudarem a transportar carbono para o fundo do mar, este estudo chama a atenção para outro comportamento: a formação de boluses, que podem afundar ainda mais rapidamente do que os excrementos.
A equipa de investigação, cujos resultados principais foram publicados na revista Biology Letters, observou que a formação destes bolos alimentares aumenta quando há excesso de alimento disponível — ou quando partículas indesejadas, como plástico, ficam presas nos apêndices usados para se alimentarem.
“Esta recusa ativa de alimento contaminado pode ter implicações importantes na forma como o carbono é armazenado nas profundezas do oceano”, explicam os investigadores.
Microplásticos: uma ameaça crescente
Apesar de a observação ter sido feita por acaso, os cientistas alertam para as possíveis consequências do aumento da poluição por microplásticos nos oceanos. Se o krill rejeitar sistematicamente alimentos contaminados, isso pode afetar a sua nutrição, a cadeia alimentar marinha e o próprio funcionamento do ciclo de carbono nos ecossistemas oceânicos, particularmente no Oceano Antártico.
“A presença crescente de microplásticos poderá estar a alterar processos naturais de reciclagem e sequestro de carbono que são cruciais para o equilíbrio climático do planeta”, concluem os autores.
Esta descoberta abre caminho a novas investigações sobre como a poluição afeta não só a saúde dos organismos marinhos, mas também os grandes sistemas que regulam o clima da Terra.