“Só temos o que merecemos”, artigo de opinião de Álvaro Cidrais*
Ao contrário do que é habitual nesta terra, deixem-me assumir a responsabilidade. SOU eu o CULPADO! Sou eu o responsável por esta crise que nos afecta. Todavia, não sou o único!
Sou eu, porque podia estar no lugar do Tó-Zé ou do Pedro, mas preferi a pacata calma da vida fora da política, sabendo que perdia certas mordomias. Sou eu, porque continuo a consumir de forma pouco sustentável, porque voto nos mesmos de sempre, porque continuo a tratar da minha «vidinha». E, portanto, tenho aquilo que faço por merecer. Nada mais!
Sou o resultado de uma educação e de padrões de consumo irresponsáveis que me “transmitiram” em casa, na escola e no trabalho, que continuo a passar aos meus descendentes, apesar de ter estudado Educação Ambiental.
A crise actual é um sintoma de uma doença (estrutural e educativa) que, depois de aparentemente curada, regressa passado algum tempo, para debilitar o corpo (a civilização). É um sintoma de uma doença de longo prazo que afecta a pirâmide da sustentabilidade: a «economite financeira aguda». Ciclicamente, lá vêm os sinais: a bolsa perde valor, o consumo diminui, as empresas despedem! (…) Apenas o normal! E o planeta (agora em uníssono connosco) grita, carregado de poluição, assistindo à degradação contínua de recursos naturais e civilizacionais.
Mas a origem da doença é outra e a crise é sempre um momento de transformação, eventualmente de crescimento ou refundação. É, inevitavelmente, um período de mudança que, habitualmente, nos faz sofrer e aprender. Pode ser que esta nos faça olhar melhor para a realidade e não assistir impavidamente, serenos ou incrédulos aos discursos e patranhas de alguns, entre os quais, por vezes, nos encontramos!
Está na altura de assumir uma atitude responsável, mais activa e empreendedora, tanto na análise efectiva dos problemas (apenas observamos o que queremos ver) como na busca e concretização de soluções. Uma coisa é certa: “Mais do Mesmo”, resulta “em mais do mesmo”. Ou seja, em crises, desemprego e desespero temporário, até que o dinheiro volte a estar de acordo com a nossa vontade voraz de consumo.
Esta atitude (e os comportamentos que nela se fundam) não age sobre a doença, apenas convive com os seus sintomas, temporariamente. A atitude crítica conformista talvez não seja sustentável!
Quem já está a pagar o seu preço são os que saem agora da escola! Onde está o emprego e, pior do que isso, onde está a esperança que eu tinha quando de lá saí como aluno? Se calhar, os nossos filhos não nos merecem! Garantidamente, não merecem a Terra que lhes vamos deixando, apesar de, em alguns aspectos, aparentar estar bem melhor do que há 20 anos.
Por favor, assumam a responsabilidade que temos!
*Álvaro Cidrais é licenciado em Geografia e Mestre em Geografia Humana: Desenvolvimento Regional, sendo actualmente docente universitário na Universidade Lusíada de Lisboa, consultor/assessor de gestão e formador, trabalhando como consultor independente em áreas relacionadas com a sua especialização. Foi ainda co-autor de dois livros com Xosé Manuel Souto, da Universidade de Vigo, designadamente ”Planeamento Estratéxico de Mercadotecnia Territorial” e “História do Eixo Atlântico”.