“Não são as ONGs que suportam este País, são as empresas”



O lucro e o propósito social das empresas devem estar alinhados, mesmo que isso signifique sacrificar o valor do accionista, de acordo com os resultados do Edelman Trust Barometer, que foram hoje apresentados no BES Arte & Finança, em Lisboa.

De acordo com o estudo, mais de 75% dos consumidores acredita que as empresas “devem criar valor para o accionista de uma forma que esteja alinhada com os interesses da sociedade, mesmo que isso signifique sacrificar o valor do accionista”.

Em termos globais, a confiança dos portugueses aumentou nas empresas, Organizações Não-Governamentais (ONGs) e nos media, mais baixou de forma muito expressiva no Governo.

Em relação às empresas, uma das conclusões “portuguesas” do estudo dá conta que entre os principais factores de reputação encontram-se uma política de verdade e transparência (92%), o ser socialmente responsável (82%), o ter um preço justo/competitivo nas marcas (82%), tratar bem os funcionários (79%) e comunicar com honestidade o estado dos seus negócios (73%).

No final da lista ficam atributos como “proporcionar retorno financeiro sólido aos seus accionistas” (57%) ou “a empresa ter uma liderança conceituada/admirada”, com 53%.

Durante o debate que se seguiu à apresentação dos resultados portugueses e internacionais do Edelman Trust Barometer, o vogal da direcção do Instituto Português de Corporate Governance, António Gomes Mota, afirmou que “as empresas portuguesas estão cada vez mais próximas do consumidor, com melhores práticas de gestão”.

Antes, já o economista Augusto Mateus – que pelo terceiro ano consecutivo apresentou o Edelman Trust Barometer – tinha avançado que “desde 2007” que há um conjunto de “mudanças irreversíveis que obrigam a reformas nas instituições e nos mercados”.

“As ONGs saem fortalecidas neste estudo e os Governos em queda porque as ONGs estão muito mais avançadas em termos de cooperação internacional”, revelou.

Também o especialista em Inovação Social, João Wengorovius Meneses, afirmou que o Estado vai ter que ceder “algum espaço à sociedade civil”.

“Isto é muito importante nas situações de crise. O Estado ainda não consegue gerar dinâmicas de baixo para cima, de falar com as pessoas. Por isso gera desconfiança”, revelou.

Wengorovius Meseses deu o exemplo da recente candidatura de Fernando Nobre, presidente da AMI, à presidência da República, para explicar como os líderes locais das ONGs têm “um grande capital”.

“Por que razão os portugueses confiam tanto nas ONGs? Bem, as ONGs têm uma relação não-instrumental com as pessoas. Por outro lado, não gerem os nossos impostos, como os políticos, por isso as pessoas também não têm grandes expectativas perante elas”, explicou o responsável.

“Mas a verdade é que as pessoas também não investem nas ONGs”, disse, revelando por outro lado que, quando se identifica como representante de uma ONG, costuma ser recebido “com uma aura romântica”, o que contrasta da forma como é recebida como funcionário da Câmara Municipal de Lisboa, “quase com pedras”.

Ainda durante o debate, e comentando o facto dos portugueses confiarem mais nas ONGs que nas empresas, o presidente da AICEP, Basílio Horta (na foto), referiu que “a sociedade deve imenso às empresas”.

“Não são as ONGs que suportam este País, são as empresas”, afirmou.

Recorde a forma como a GCI, que liderou a parceria que organizou o Edelman Trust Barometer Portugal, viveu a apresentação do estudo.

O Edelman Trust Barometer explica também ainda que a confiança protege a reputação, ou seja, se uma empresa não for confiável, uma informação positiva é considerada credível em apenas 15% dos casos. Por outro lado, se uma empresa for de confiança, esse valor aumenta para 51%.

Outro resultado interessante é o facto dos CEOs estarem a recuperar a sua credibilidade, globalmente. Isto é observado entre os consumidores portugueses e, de forma ainda mais acentuada, no conjunto dos 23 países abrangidos pelo Edelman Trust Barometer.

Confira os resultados portugueses do Edelman Trust Barometer.

E os resultados internacionais.

E a comparação entre os resultados portugueses e os internacionais.





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