Ambientalistas europeus dizem que Europa virou as costas ao lobo e à ciência

Grupos ambientalistas europeus condenaram hoje a aprovação pelo Parlamento Europeu da redução da proteção do lobo, considerando-a um “ataque à natureza” e dizendo que a Europa virou as costas ao lobo e à ciência.
O Parlamento Europeu aprovou hoje, com 371 votos a favor, 162 contra e 37 abstenções, a redução do estatuto do lobo de “muito protegido” para “protegido” na União Europeia (UE).
O novo estatuto – que tinha já luz verde do Conselho da UE, onde estão representados os Estados-membros – permite a gestão da população de lobos, nomeadamente através da caça.
A aprovação da proposta da Comissão Europeia (depois da decisão de reduzir a proteção da espécie ao abrigo da Convenção de Berna) “marca um afastamento da elaboração de políticas com base científica no novo mandato da União Europeia (UE), estabelecendo uma tendência preocupante que pode ir muito além do lobo”, diz-se num comunicado assinado por quatro organizações ambientalistas internacionais.
As organizações avisam que os documentos da extrema-direita e dos conservadores mostram que “continua a haver uma vontade de destruir ainda mais as leis da natureza”, tal como “a investida em curso contra o Acordo Verde da UE”.
“Esta votação também estabelece um precedente perigoso para a elaboração de políticas da UE, mostrando como uma cruzada sem fundamento pode ser enquadrada como uma prioridade de todo o bloco”, dizem os ambientalistas.
A redução da proteção do lobo, avisam os ambientalistas no comunicado, ignora a ciência, alimenta a divisão e põe em risco um dos maiores sucessos de conservação da Europa.
Quando é preciso reforçar a natureza, o maior aliado contra as crises climáticas, de biodiversidade e de poluição, há decisores a travar guerras contra as “frágeis espécies e ecossistemas”, quando deviam cumprir o seu dever defendendo a natureza “e não sacrificando-a para obter ganhos políticos”, acusam as organizações.
Assinam o comunicado as organizações WWF UE. BirdLife Europe, ClientEarth e Gabinete Europeu do Ambiente (uma coligação de organizações ambientalistas europeias).
No comunicado as organizações recordam que a reviravolta começou em setembro de 2023, quando a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu a redução da proteção da espécie após a morte do seu pónei, Dolly, alegadamente devido a um ataque de lobo.
Em dezembro de 2023, a Comissão Europeia propôs a redução da proteção da espécie ao abrigo da Convenção de Berna. Apenas um ano antes, a UE tinha rejeitado a mesma proposta por falta de base científica.
A diretiva entrará em vigor 20 dias após ter sido publicada no Jornal Oficial da União Europeia e os 27 países da UE terão 18 meses para cumprir à lei.
Quinze Estados-Membros, incluindo Portugal, incluíram nos planos estratégicos da Política Agrícola Comum verbas para apoiar ações preventivas e investimentos que atenuem o risco de danos causados por grandes carnívoros ao gado e para práticas de pastoreio benéficas para o ambiente.
Segundo dados da Comissão Europeia, que apresentou a proposta hoje aprovada, há mais de 20.000 lobos na Europa e as suas populações e áreas de distribuição estão a aumentar.