“Bomba-relógio tóxica”: Destruição de barragem ucraniana expõe milhares de toneladas de metais pesados



A destruição da barragem na cidade Kakhovka, na Ucrânia, em junho de 2023, um dos maiores reservatórios de água da Europa, libertou uma “bomba-relógio tóxica” que poluiu os cursos de água doce e afetou o ambiente marinho.

De acordo com um estudo publicado esta quinta-feira na revista ‘Science’, o colapso da barragem resultou na libertação de vários milhares de milhões de litros de água no Rio Dnipro, a sul da cidade ucraniana de Zaporíjia, que acabaram por chegar ao Mar Negro.

Foto mostra o leito do reservatório de Kakhovka, com os sedimentos expostos, depois de ter sido drenado após a sua destruição. Os sinais de aviso dizem “É proibido nadar” e “Atenção! Minas!”.
Foto: Ivan Antipenko

Com o esvaziamento do reservatório, uma área de cerca de dois mil quilómetros quadrados do leito da barragem ficou exposta, quase 80% da área do Luxemburgo, provocando o que os investigadores dizem ser “um problema ignorado”. Isto, porque a massa de sedimento do fundo do reservatório contém umas estimadas 83,3 mil toneladas de metais pesados tóxicos que se foram aí acumulando ao longo de vários anos, incluindo cádmio, chumbo e níquel, provenientes da poluição gerada pelas zonas industriais e agrícolas e transportada pelo Dnipro.

Segundo a análise, menos de 1% dos sedimentos contaminados terão sido arrastados aquando da destruição da barragem, sendo que os restantes continuam no reservatório e, com a ação das chuvas, podem vir a contaminar fortemente outros cursos de água, ameaçando a saúde humana na região.

Embora ainda esteja a ser debatido se a barragem de Kakhova deve ou não ser reconstruída, os investigadores consideram que se isso não acontecer o ecossistema local deverá retornar rapidamente ao estado anterior à barragem. No entanto, alertam que, sem a proteção, os metais pesados contidos nos sedimentos podem espalhar-se e contaminar as teias alimentares, dos microrganismos à vegetação e animais e, por fim, aos humanos.

“Se mais barragens forem atacadas, as consequências para as pessoas e para o ambiente podem ser catastróficas, como mostrou o colapso da barragem de Kakhova”, avisa Oleksandra Shumilova, investigadora do Leibniz Institute of Freshwater Ecology and Inland Fisheries (Alemanha) e primeira autora do artigo.

“A proteção de barragens em áreas afetadas por atividades militares deve ser uma prioridade do direito internacional, pois falhas das barragens causadas pelo conflito podem ter consequências ambientais abrangentes e duradouras”, salienta.





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