Cigarras terão começado a cantar há 47 milhões de anos

Na região de Hesse, na Alemanha, um grupo de cientistas descobriu o que diz ser o fóssil mais antigo encontrado até agora de uma cigarra da família Cicadidae, à qual pertencem as atuais cigarras que ouvimos pelos campos.
Trata-se de uma espécie nova para a Ciência, batizada com o nome Eoplatypleura messelensis e que terá vivido há cerca de 47 milhões de anos, durante o Eocénico, muito antes de os humanos terem surgido.
Os dois fósseis preservam os corpos de duas fêmeas e faziam parte da coleção do Museu de História Natural de Frankfurt desde a década de 1980, mas só agora foi possível perceber que é uma nova espécie e que as cigarras começaram a cantar 17 milhões de anos antes do que até agora se pensava.
O corpo de uma das Eoplatypleura messelensis está quase totalmente preservado em xisto betuminoso, mostrando um inseto com cerca de 26,5 milímetros de comprimento e de asas estendidas para os lados, com uma envergadura de 68 milímetros. As asas estão tão bem preservadas que ainda é possível ver os veios que as atravessam, formando padrões que, segundo Sonja Wedmann, uma das principais autoras do artigo publicado na revista ‘Scientific Reports’, ainda podem ser encontrados nas cigarras modernas do grupo Platypleurini, para o qual até agora não se tinha encontrado registos fósseis.
A cigarras Eoplatypleura messelensis apresentam uma cabeça compacta com olhos compostos discretos e amplas asas anteriores caracterizadas por uma curvatura acentuada perto do ponto de origem. Embora ambos os espécimes sejam fêmeas, acredita-se que, com base no grupo ao qual pertencem, os machos seriam capazes de produzir “chamamentos de acasalamento ruidosos”, diz Hui Jiang, primeiro autor do estudo.

As descobertas não mostram apenas que os cantos das cigarras já podiam ser ouvidos há 47 milhões de anos, mas também que chegaram à Europa muito antes do que anteriormente se pensava. Estudos anteriores estabeleciam que as cigarras só tinham chegado às paisagens europeias há 30 milhões de anos, com a colisão entre as placas tectónicas africana e eurasiática. Estes fósseis mostram que esses insetos já cá estavam muito antes disso.
Com base nos sedimentos nos quais as Eoplatypleura messelensis foram encontradas, os cientistas acreditam que terão vivido a temperaturas que rondam os 22 graus Celsius, muito semelhante às temperaturas preferidas ainda hoje pelas cigarras do grupo Platypleurini que vivem em zonas tropicais e subtropicais de África e da Ásia.
Os autores deste estudo consideram que a nova espécie não só ajuda a preencher as lacunas existentes no conhecimento sobre a fauna antiga do Eocénico, como também pode servir de referência cronológica em estudos genéticos sobre a história evolutiva das cigarras e oferecer “informação valiosa sobre a origem da atual diversidade de insetos”, afirma Wedmann.