Conflito Israel-Hamas: Répteis, e outros animais, também pagam “o preço da guerra”



Os sons das explosões do conflito entre Israel e o Hamas estão a provocar o aumento dos ritmos metabólicos dos gecos que vivem no território israelita, ameaçando a sua sobrevivência.

Quando, no dia 7 de outubro de 2023, estalou a guerra, uma equipa de investigadores da Universidade de Tel Aviv tinha começado, semanas antes, a estudar a fisiologia dos gecos da espécie Stenodactylus sthenodactylus, encontrados por todo o norte de África, em Israel e em parte da Jordânia. Num artigo publicado em junho do ano passado, na revista ‘Ecology’, os cientistas recordam que vários foguetes disparados pelo Hamas foram intercetados e rebentaram perto da universidade.

A coincidência, não intencional, entre o estudo e o conflito permitiu aos investigadores revelar que também os gecos, possivelmente tal como outros animais selvagens, são afetados pelos estrondos da guerra, pagando, como os humanos, o que dizem ser “o preço da guerra”.

De acordo com o estudo, o ritmo metabólico dos gecos era cerca de duas vezes superior ao normal imediatamente após as explosões, e ainda 1,6 vezes superior ao ritmo registado quatro horas após os estrondos.

Por isso, a equipa concluiu que as explosões dos foguetes aumentam os níveis de stress e ansiedade dos pequenos répteis, aumentando, também, os gastos de energia associados a esses estados. E dizem que, se ficarem expostos a estrondos durante longos períodos de tempo, esse consumo acrescido de energia pode mesmo pôr em risco as suas vidas.

Embora reconheça que “o aspeto mais trágico da guerra é a perda de vida humana”, Shai Meiri, zoólogo da Universidade de Tel Aviv e um dos autores do artigo, salienta que “os animais também são gravemente afetados, quer direta, quer indiretamente, de formas que podem ameaçar a sua sobrevivência”.

Segundo os investigadores, os gecos apresentavam uma respiração mais acelerada e “exibiam claramente sinais de stress” devido ao rebentamento dos projéteis, explicam em comunicado. O estudo continuou, e um mês após a eclosão do conflito, os gecos continuavam a mostrar-se ansiosos e com metabolismos mais acelerados, o que mostra, argumentam os cientistas, que não se conseguiram adaptar e aclimatizar ao cenário de guerra.

“Um estado de stress é prejudicial quer para humanos, quer para animais”, diz Eran Levin, um dos principais autores do trabalho. “Para compensarem o aumento do consumo de oxigénio e o gasto de reservas de energia, os animais precisam de comer mais”.

No entanto, “mesmo que consigam encontrar alimento, no processo expõem-se a predadores e perdem oportunidades de reprodução”, acrescenta o investigador, sublinhando que “numa situação de conflito permanente (…) o custo metabólico pode ser significativo e ter um impacto real nas reservas energéticas e nos períodos de atividade dos répteis e de outros animais”, podendo, em última instância, agravar ainda mais o estado de conservação de espécies já ameaçadas.






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