Conservacionistas e caçadores insatisfeitos com fim da proibição de caça à rola-brava em França, Itália e Espanha



A Comissão Europeia (CE) autorizou o levantamento da proibição da caça à rola-brava (Streptopelia turtur) em Espanha, Itália e França.

O anúncio foi feito no dia 1 de abril depois de o grupo de especialistas das diretivas Habitats e Aves da CE (conhecido como NADEG) ter publicado as recomendações resultantes do 10.º encontro do grupo de trabalho sobre a recuperação de aves na região, realizado a 04 de março passado.

No documento, o NADEG diz que os três países europeus reuniram as condições essenciais para retomaram a caça à rola-brava, nomeadamente, um aumento da população dessa espécie durante pelo menos dois anos consecutivos, o aumento nas taxas de sobrevivência e a existência de sistemas eficazes de regulamentação e controlo da caça.

De recordar que em 2021 foi implementada uma moratória à caça à rola-brava na União Europeia, abrangendo Espanha, França, o noroeste de Itália e Portugal. No ano seguinte, a proibição foi alargada à Áustria, à Bulgária, à Grécia, a toda a Itália, a Malta, à Roménia e ao Chipre.

O objetivo era permitir a recuperação da espécie, classificada como “Vulnerável” à extinção na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza. Esse estatuto de ameaça mantém-se, pelo que a BirdLife International, organização de proteção da avifauna, considera que o levantamento da proibição agravará o declínio da rola-brava na Europa.

“A caça é uma das maiores causas do declínio da espécie, mas, em vez de reforçar as proteções, a Comissão [Europeia] está a abrir a porta a mais mortes”, denunciam os conservacionistas em comunicado.

Segundo a mesma organização, as populações de rolas-bravas no corredor migratório da Europa ocidental, “depois de anos de declínio (…) começaram a recuperar”, fruto da moratória. No entanto, no corredor do centro e do leste europeu, “onde as proibições à caça não foram devidamente implementadas, não se observou qualquer recuperação”, aponta a BirdLife, dizendo que apesar de os números populacionais terem aumentado, os sistemas de regulamentação e aplicação das proibições “continuam a ser fracos e pouco fiáveis”.

“Sem os devidos controlos, a caça excessiva será retomada e a espécie começará a declinar novamente”, aponta.

Em Portugal, a Federação Nacional de Caça (Fencaça) avançou, quase um mês antes de ser conhecida a decisão do NADEG, em o país “ainda não atingiu os objetivos estabelecidos” para a recuperação da rola-brava. E aponta que o ICNF “deveria vir a público explicar porque não atingiu as metas recomendadas” pelo grupo de especialistas da CE.

A Fencaça alerta para “a inexistência de um sistema credível de controle e fiscalização e de uma efetiva recuperação da população” em Portugal e sugere que o Governo falhou na implementação de medidas para “a conservação e o aumento de habitats de qualidade para a rola-comum”, incluindo a ausência de um plano de recuperação da espécie.

“A ausência de um Plano de Recuperação e Conservação da rola-comum e a falta de investimentos efetivos colocam Portugal em desvantagem face a outros países que demonstram empenho na recuperação da espécie e na gestão sustentada dos recursos cinegéticos”, diz, citado em nota, Jacinto Amaro, presidente da Fencaça.

“Portugal continua estagnado, desperdiçando oportunidades de gerir de forma sustentável uma espécie que faz parte do nosso património cultural”, salienta, acrescentando que “se o país desejar retomar a caça à rola-comum é essencial que o ICNF apresente um plano estruturado e implementem ações eficazes de conservação”.

De acordo com a associação de caça, Portugal só recomeçará a caça à rola-brava em 2026.

Por seu lado, os conservacionistas defendem a continuação da proibição da caça, com Barbara Herrero, da BirdLife, a acusar a CE de imprudência numa altura em que o estado de conservação da rola-brava e ainda desfavorável.

“Nós sabemos onde este caminho nos vai levar – diretamente de volta ao limite”, aponta, indicando que “a Comissão Europeia deveria ter-se mantido firme e mantido a moratória”.






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