Crias de baleia-de-bossa precisam de 38 vezes mais energia para crescerem após o nascimento do que no útero



As crias recém-nascidas de baleias-de-bossa (Megaptera novaeangliae) precisam de 38 vezes mais energia para crescerem do que aquela de que necessitam quando ainda estão no útero nas progenitoras.

A descoberta foi feita por uma equipa de cientistas liderada pela Universidade do Havai em Mānoa, e publicada este mês na revista ‘Marine Ecology Progress Series’.

Com este estudo, de acordo com o seu primeiro autor, quis perceber-se o “custo do crescimento” nas baleias-de-bossa. Martin Van Aswegen explica, citado em comunicado, que “embora investigações anteriores tenham mostrado que estas baleias precisam de crescer muito num curto espaço de tempo, o real gasto energético desse crescimento acelerado continuava a ser desconhecido”.

Segundo os dados recolhidos, os investigadores mostram que as crias precisam de entre seis e oito vezes mais energia todos os dias para crescerem do que os indivíduos adultos. Menos de um ano após terem nascido, as pequenas baleias terão já alcançado 30% do tamanho que terão para o resto das suas vidas.

Os cientistas estimam ainda que mais de 60% das maiores necessidades energéticas que as crias têm para crescerem ocorrem nos primeiros 150 dias de vida, o que os leva a descrevê-las como animais que foram talhados para crescer.

O sucesso do crescimento das crias depende de sacrifícios por parte das progenitoras, uma vez que as zonas de reprodução não são as mesmas onde a espécie se alimenta. Isso significa que as fêmeas não têm acesso a alimento enquanto estão a amamentar as suas crias, e só podem viajar para os locais de alimentação depois de as pequenas baleias adquirirem forças suficientes para sobreviverem a essas longas travessias.

Dessa forma, as progenitoras com boas reservas de energia são aquelas que tendencialmente conseguirão criar crias maiores e mais saudáveis, que sejam capazes de enfrentar condições ambientais adversas. Por outro lado, fêmeas mais pequenas e com menos gordura acumulada podem reproduzir-se menos vezes e ter de dedicar menos tempo às suas crias.

A investigação revelou também o que os cientistas dizem ser “uma tendência preocupante”. As baleias-de-bossa adultas parecem ser hoje mais pequenas do que no passado, estimando-se que, desde meados da década de 1900, tenha havido uma redução de entre 30 e 60 centímetros no comprimento dos indivíduos maturos.

Este estudo focou-se em populações de baleias-de-bossa que vivem no Pacífico Norte, onde os investigadores dizem ter encontrado sinais de alerta, nomeadamente uma redução de 76,5% dos avistamentos de progenitoras e crias e uma diminuição do número de nascimentos entre 2013 e 2018.

Esses declínios, sugerem os autores deste artigo, coincidem com a onda de calor marinha mais duradoura que se registou até hoje nessa parte do Pacífico. A redução da disponibilidade de alimento, especialmente de pequenos peixes e crustáceos (krill), fruto de temperaturas marinhas elevadas, pode ter impedido as fêmeas de ganharem reservas de gordura suficientes para se reproduzirem ou para prestarem os cuidados adequados às crias.

“Para que as baleias-de-bossa possam sobreviver a ameaças como ondas de calor marinhas extremas e outros fatores de stress que resultem da atividade humana, temos de perceber precisamente como é que as fêmeas reprodutoras acumulam e alocam energia para apoiar os custos exponenciais da gestação e da lactação”, explica, em nota, Lars Bejder, principal coautor do estudo.

“Este conhecimento é fundamental para se fazerem as alterações de conservação urgentes que o futuro da população exige”, salienta.






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