Degradação do solo: um alerta que não podemos ignorar



Por Sofia Almeida Pereira, Investigadora do Centro de Biotecnologia e Química Fina, Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa no Porto

O solo raramente faz manchetes em jornais ou aparece nas notícias da televisão. Para muitos, é apenas uma camada de terra sob os nossos pés, que está tão presente no dia a dia que passa despercebido. No entanto, o solo é um recurso fundamental para a vida no planeta e precisa de ser protegido. O solo sustenta uma vasta gama de serviços do ecossistema, como a produção de alimento, a regulação dos ciclos da água e dos nutrientes, o armazenamento de carbono e o abrigo de milhões de organismos vivos, e por isso, cuidar do solo é cuidar do nosso futuro.

A seca e a desertificação estão entre os fenómenos mais devastadores que afetam várias regiões do planeta. As paisagens áridas e plantações secas chocam à primeira vista, mas escondem uma ameaça invisível e igualmente grave – a degradação da saúde do solo. Este é um processo silencioso que compromete a fertilidade, a biodiversidade e a produtividade agrícola, ameaçando diretamente a segurança alimentar e o equilíbrio dos ecossistemas. Se, por um lado, a seca destrói a estrutura física do solo e ameaça a sobrevivência dos microrganismos vitais para o ciclo de nutrientes, por outro lado, a desertificação representa uma fase ainda mais crítica, tornando o solo improdutivo e acelerando o colapso dos ecossistemas. Com o desaparecimento da vegetação, o solo fica vulnerável à ação direta da chuva e do vento, que arrastam, de forma implacável, a sua camada superficial. E é precisamente esta camada rica em matéria orgânica e nutrientes que torna possível o crescimento das plantas. Quando ela desaparece, não há agricultura, não há alimento, não há futuro!

Sejamos claros, temos tendência a atribuir estes efeitos negativos apenas a fenómenos climáticos extremos e às alterações climáticas e ignorar o papel da atividade humana na aceleração da desertificação. A desflorestação, os incêndios florestais e a má gestão dos solos na agricultura intensiva são exemplos de atividades que ameaçam a saúde do solo e comprometem a sua capacidade de sustentar a vida.

O que podemos fazer para combater a desertificação e a crescente degradação dos solos? As soluções existem, mas o que realmente falta é urgência na ação! Proteger o solo exige mais do que mitigar os efeitos das alterações climáticas, implica repensar os modelos atuais de produção e utilização do solo através da adoção de práticas de gestão mais sustentáveis e adaptadas aos desafios atuais. Práticas como a diversificação de culturas, a cobertura permanente e a redução da mobilização do solo, o aumento da matéria orgânica e a promoção da biodiversidade funcional favorecem a saúde do solo contribuindo para a segurança alimentar, a qualidade ambiental e o equilíbrio dos ecossistemas.

Proteger e valorizar o solo é uma responsabilidade coletiva que deve começar com a sensibilização da sociedade para a importância do solo e com a inclusão do tema nos programas educativos, desde o ensino básico até à formação técnica e profissional. Ao promover esse conhecimento desde cedo, estaremos a formar gerações mais conscientes e comprometidas com a preservação e a gestão sustentável dos solos.

 






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