Diretor da agência nuclear da ONU em Fukushima para inspecionar descontaminação do solo
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O responsável da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) iniciou hoje uma visita ao Japão, que o levará à central danificada de Fukushima para monitorizar a descontaminação do solo, enquanto o local está a ser desmantelado.
Rafael Grossi, que visita o Japão pela quinta vez, deverá visitar as instalações de armazenamento temporário (ISF) para solo contaminado pela primeira vez na quarta-feira.
“À medida que o Japão embarca num regresso gradual da energia nuclear à sua matriz energética, é importante que isso seja feito com total segurança e com a confiança da sociedade”, explicou hoje Grossi, citado pela agência France-Presse (AFP).
O líder da agência da ONU reuniu-se hoje à noite com o ministro dos Negócios Estrangeiros japonês, Takeshi Iwaya, que anunciou que Tóquio iria disponibilizar 14 milhões de euros para programas na Ucrânia e noutros países, incluindo para melhorar o diagnóstico de cancro.
Quase 13 milhões de metros cúbicos de solo, o equivalente a cerca de 4.300 piscinas olímpicas, e 300.000 metros cúbicos de resíduos da incineração de matéria orgânica foram removidos no âmbito das atividades de descontaminação na província de Fukushima.
A visita do argentino tem como objetivo garantir “a restauração de Fukushima, incluindo o desmantelamento da central nuclear de Fukushima Daiichi e o controlo do solo contaminado removido”, explicou fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão.
Os resíduos estão a ser armazenados numa instalação temporária que cobre uma área de 16 quilómetros quadrados (km²), estendendo-se até às cidades vizinhas da central nuclear de Okuma e Futaba.
As autoridades japonesas planeiam reciclar cerca de 75% do solo contaminado — aqueles com baixos níveis de radioatividade — utilizando-o, se for confirmado como seguro, para estruturas de engenharia civil, como aterros para estradas e caminhos-de-ferro.
Espera-se que o solo que não puder ser reciclado seja descartado até à data limite de 2045, e Tóquio planeia confirmar a seleção do local e o processo de destruição este ano.
Os trabalhos de descontaminação do solo, decididos após o desastre de 11 de março de 2011 e que não tinham sido realizados após o desastre de Chernobyl em 1986, foram realizados em mais de 9.000 km², ou 40 municípios.
O método de remoção de terras “foi muito eficaz na limitação das transferências (radioativas) porque as áreas mais ligadas aos cursos de água foram descontaminadas”, explicou Olivier Evrard.
Em setembro, a AIEA considerou que “a abordagem do Japão à reciclagem e eliminação de solos e resíduos radioativos provenientes de atividades de descontaminação” estava alinhada com as normas de segurança da organização.
Durante a visita de Grossi, os especialistas da AIEA e de vários países, incluindo a China e a Coreia do Sul, vão também recolher amostras de água do mar e de peixe “para aumentar a transparência” no processo de libertação de água tratada no mar, garantiu à AFP outra autoridade da agência de energia do Japão.
A Tepco, operadora da central nuclear de Fukushima Daiichi, começou a desmantelar tanques de água tratada para libertar espaço para o armazenamento de resíduos nucleares.
Após o enorme tsunami, desencadeado por um sismo de magnitude 9,0, a Tepco manteve cerca de 1,3 milhões de toneladas de água contaminada — chuva, águas subterrâneas e água do mar — no local, bem como água necessária para arrefecer os reatores.
Esta água, tratada pelo sistema ALPS (“Advanced Liquid Treatment System”) para reduzir a sua radioatividade, permanece armazenada em mais de mil tanques que ocupam atualmente a maior parte do terreno da central.
O desmantelamento das albufeiras tornou-se possível com o início do despejo de água no Oceano Pacífico em agosto de 2023. O Japão e a AIEA garantem que esta água não prejudica o ambiente.