Emissões de metano ligadas à energia mantém-se em níveis recordes



As emissões de metano ligadas aos setor das energias fósseis mantiveram-se em 2024 próximas dos recordes históricos, segundo um relatório da Agência Internacional da Energia (AIE).

No documento alerta-se para um aumento de descargas maciças de metano, com acentuado efeito, nas instalações petrolíferas e de gás.

Em 2024, a produção recorde da indústria dos combustíveis fósseis (gás, petróleo e carvão) foi responsável pela libertação de mais de 120 milhões de toneladas de metano na atmosfera, perto do recorde registado em 2019, segundo a nova edição do “Global Methane Tracker”.

O metano, o segundo gás com efeito de estufa a seguir ao dióxido de carbono (CO2), é a molécula do gás natural que se liberta dos gasodutos mas também do gado bovino ou dos resíduos.

Todos os anos são libertadas cerca de 580 milhões de toneladas de metano, 60% das quais atribuíveis à atividade humana – liderada pela agricultura, seguida da energia – e quase um terço às zonas húmidas naturais.

O metano, com um efeito de estufa muito mais poderoso do que o CO2, é responsável por cerca de 30% do aquecimento global desde a revolução industrial.

Mas como tem um tempo de vida mais curto, é “a melhor opção que temos para reduzir o aquecimento (global) a curto prazo”, disse à imprensa o economista-chefe da AIE, Tim Gould.

No setor dos combustíveis fósseis, as fugas de metano ocorrem durante as operações de desgasificação ou de queima nas instalações petrolíferas e de gás, mas também nos gasodutos ou durante o transporte marítimo de gás liquefeito.

Segundo a AIE, 70% destas emissões poderiam ser evitadas e o gás capturado poderia ser vendido, por exemplo, para produzir eletricidade.

No entanto, as medidas tomadas ficam “aquém das nossas ambições”, declarou Fatih Birol, diretor executivo da agência.

A China é o maior emissor mundial de metano relacionado com a energia, principalmente do setor do carvão, seguida pelos Estados Unidos e pela Rússia.

Os números da AIE baseiam-se em dados medidos, por oposição às emissões declaradas, que são por vezes obsoletas ou estimadas com base em informações do setor energético. Por isso a estimativa da AIE é cerca de 80% mais elevada do que o total declarado pelos países às Nações Unidas.

Mas “a transparência está a melhorar”, graças aos mais de 25 satélites que seguem a partir do espaço as “plumas” de metano que se escapam das instalações petrolíferas, mas também das lixeiras, das explorações pecuárias intensivas ou dos arrozais.

Um deles, o Sentinel 5P europeu, que deteta apenas as maiores fugas, observou que os “eventos de super-emissão de metano” nas instalações de petróleo e gás atingiram um nível recorde em 2024. Foram detetadas fugas maciças em todo o mundo, mas sobretudo nos Estados Unidos, no Turquemenistão e na Rússia.

Pela primeira vez, a AIE inclui na sua avaliação as emissões de metano provenientes de poços de petróleo e gás abandonados e de minas de carvão: em conjunto, constituirão o “quarto maior emissor mundial de metano proveniente de combustíveis fósseis”, contribuindo com cerca de oito milhões de toneladas em 2024.

A redução das emissões de metano das fontes de energia abrandaria consideravelmente o aquecimento global, evitando um aumento de 0,1°C das temperaturas globais de agora até 2050. Trata-se de “um impacto considerável, comparável à eliminação de todo o CO2 da indústria pesada mundial de uma só vez”, afirma o relatório.

As empresas e os países comprometeram-se a reduzir as emissões de metano, mas atualmente apenas cerca de 5% da produção de petróleo e gás cumpre “uma norma de emissões de metano próximas do zero”.

O grupo de reflexão Ember (sobre energia, presente em todos os continentes) estima que a indústria dos combustíveis fósseis deve reduzir as suas emissões de metano em 75% até 2030, para que o mundo possa atingir a neutralidade carbónica até 2050.






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