Escassez de presas selvagens está a afetar populações de grandes predadores africanos
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A redução do número de presas selvagens, devido à caça e à perda de habitat, está a causar o declínio das populações de grandes carnívoros africanos.
A conclusão é de dois estudos que tiverem como autor principal o ecólogo Scott Creel, investigador e docente na Universidade Estadual do Montana (Estados Unidos da América). Um deles tem como foco os impactos da escassez de presas nos leões africanos (Panthera leo) e o outro analisa o mesmo fenómeno em relação aos mabecos (Lycaon pictus).
Embora tratem de espécies diferentes de carnívoros, “estão relacionados em muitos aspetos”, diz o investigador, citado em comunicado, explicando que a densidade populacional atual das presas desses dois predadores, como os gnus e as impalas, é “uma minúscula fração do que era há 40 ou 50 anos”.
Cada um dos estudos baseou-se em dados recolhidos entre 2013 e 2021 pela monitorização de grupos de leões e mabecos na Zâmbia, levada a cabo por Creel e alguns dos seus alunos. Um dos grupos de leões observados reside na região zambiana de Kafue, onde as comunidades registam altos níveis de pobreza e as populações de espécies-presa têm vindo a declinar devido à caça-furtiva.
“Por razões altamente compreensíveis, as pessoas que vivem em aldeias próximas das áreas protegidas estão a recorrer à caça-furtiva de animais selvagens por causa da sua carne, como forma de obterem comida e de fazerem dinheiro”, afirma Creel.
Os autores explicam que quanto mais presas houver, maior será a probabilidade de sobrevivência das populações de predadores como os leões e os mabecos, não só porque há mais disponibilidade de alimento, mas também porque as fêmeas, com abundância de comida, tendem a ter mais crias, ajudando a sustentar o futuro das espécies.
No que toca ao estudo sobre os leões, os investigadores perceberam que o combate à caça-furtiva, com recurso a vedações e a patrulhas de segurança, permitiram aumentar o número de indivíduos dessa espécie de carnívoro.
Contudo, o caso dos mabecos, uma espécie de canídeo selvagem classificada como “Em Perigo”, revelou-se diferente. Em locais onde as presas não abundam, os mabecos têm de competir mais intensamente com outros predadores, como os leões, pelo pouco alimento disponível.
Por não poderem enfrentam um grupo de leões sem correrem grandes riscos, os mabecos têm de percorrer distâncias muito maiores para caçar, pelo que por vezes gastam mais energia do que aquela que consomem.
Assim, os mabecos são pressionados pela competição com outros predadores e pela falta de presas, algo que Creel reconhece como sendo “muito preocupante”.