Esta lagarta emite zumbidos para proteger o seu pequeno território

Defender territórios de potenciais invasores será, porventura, um dos elementos mais comuns a uma grande diversidade de animais, plantas, fungos e até microrganismos.
Marcas de odor, “guerra química”, vocalizações intimidatórias, confrontos físicos e exibições exuberantes são algumas das técnicas usadas pelos seres vivos para protegerem os seus espaços. Agora, um grupo de cientistas revela que uma minúscula lagarta de mariposa da espécie Falcaria bilineata, acaba de nascer e com não mais do que dois milímetros de comprimento, é, desde os seus primeiros dias de vida, uma defensora aguerrida do seu território: a ponta de uma folha, com cerca de um centímetro de largura.
Vídeos mostram lagartas residentes a tentarem defender os seus minúsculos territórios contra invasores. No primeiro vídeo, o residente perde o “braço-de-ferro” e abandona a folha, mas no segundo consegue afastar o intruso com sucesso. Fonte: Matheson et al., 2025.
Essa espécie de mariposa deposita os seus ovos em folhas e galhos de bétulas e amieiros. Quando nascem, as lagartas deslocam-se para a ponta de alguma folha perto do local onde foi colocado o seu ovo. Aí, o pequeno animal, vulnerável à predação, está por conta própria e, apesar do seu tamanho, tem de defender o seu território e, claro, a própria vida.
Era já sabido que as lagartas de F. bilineata criam vibrações nas suas folhas, ao agitarem os seus corpos, um comportamento que a comunidade científica tem interpretado como sendo uma exibição de territorialidade, embora sem certezas. Mas, num artigo publicado recentemente na revista ‘Journal of Experimental Biology’, uma equipa de cientistas da Universidade Carleton, no Canadá, declara, por fim, que “as pequenas lagartas vibram para defenderem territórios na ponta das folhas”.
Os investigadores documentaram o comportamento das lagartas quando outra da mesma espécie era colocada na mesma folha. À chegada do estranho, a lagarta “residente” começava a agitar o corpo a um ritmo acelerado, fazendo vibrar a folha e também produzindo “zumbidos” ao bater o corpo contra a superfície da folha.
Ao usarem um laser especial que deteta as vibrações, os cientistas conseguiram captar os sons produzidos pelas pequenas lagartas. Quanto mais o invasor se aproximava do residente, mais rapidamente este último vibrava: quase 25 vibrações por minuto.
De acordo com o artigo, a tática parece ser eficaz, uma vez que se estima que em 71% dos casos o invasor acaba por se afastar da lagarta residente no seu pequeno território na ponta da folha. Contudo, nas situações em que o intruso leva a melhor sobre o residente, a lagarta derrotada lança-se da folha, presa por um fio de seda de produção própria.
Porquê tanto alarido por causa da ponta de uma folha? Embora ainda não se saiba ao certo, os cientistas sugerem que esse pequeno território poderá facilitar a fuga das lagartas em caso de perigo, bastando, para isso, lançar-se borda fora, pelo que é uma posição “premium” que merece ser defendida.