Estudo liderado pela Universidade de Aveiro revela como as baleias-anãs adaptam as suas dietas quando há menos presas



As baleias-anãs (Balaenoptera acutorostrata) são uma espécie abundante e amplamente distribuída pelo Atlântico nordeste, podendo ser encontradas na costa atlântica da Península Ibérica, incluindo em águas portuguesas.

Embora a sua dieta seja composta sobretudo por sardinhas, essas baleias, classificadas como vulneráveis ao risco de extinção na região, podem adaptar os seus apetites à abundância ou escassez das suas presas de eleição.

Um estudo liderado por Sílvia Monteiro, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro, publicado na revista ‘Marine Environmental Research’, analisou a dieta das baleias-anãs entre 2005 e 2024.

Com base no conteúdo dos estômagos de baleias arrojadas ao longo das costas portuguesa e galega nesse período, a investigadora e a sua equipa perceberam que entre 2005 e 2015, durante um período de escassez da sardinha atribuído ao “baixo recrutamento associado a pesca acima de níveis sustentáveis”, as baleias-anãs tinham dietas mais diversificadas, incluindo espécies como carapau, sardinha e cavala.

No entanto, quando as populações de sardinha começaram a recuperar, essa presa voltou a ser a principal espécie na alimentação dessas baleias.

Em comunicado, Sílvia Monteiro aponta que “a relação entre a dieta da baleia-anã e a abundância de sardinha sugere que as medidas de gestão da pesca implementadas em Portugal tiveram um impacto positivo na recuperação dos stocks desta espécie-presa”.

Ainda assim, alertam que cetáceos com elevado custo metabólico, como a baleia-anã, são altamente dependentes de espécies-presa de elevada qualidade nutricional, pelo que a sua condição física pode ser negativamente afetada quando há uma redução na disponibilidade dessas presas, o que poderá afetar a resiliência da população.

O estudo sugere ainda que poderá haverá uma coincidência entre a alimentação da baleia-anã e a pesca comercial, em termos das espécies capturadas e dos tamanhos e qualidade nutritiva dos indivíduos.

Ainda que reconheçam que a mera sobreposição não significa necessariamente que haja competição direta entre baleias e pesca, os investigadores, em comunicado, alertam para o risco de impacto negativo quando os stocks de peixe diminuem e são sujeitos a uma elevada pressão pesqueira.

Quando as presas são menos abundantes, a pesca pode tornar-se “uma ameaça direta” devido à sobre-exploração das espécies que são fundamentais para a alimentação das baleias-anãs. Além disso, quando há menos peixe no mar, aumenta a probabilidade de encontros potencialmente negativos entre embarcações pesqueiras e baleias, podendo os cetáceos ser capturado acidentalmente nas artes de pesca.

Os autores deste trabalho consideram que o conhecimento dos hábitos alimentares das baleias-anãs é essencial para os esforços de cogestão e conservação, especialmente face às alterações nos stocks de peixe, e que é preciso reforçar a monitorização dos stocks de peixe e implementar medidas que reduzam a captura acidental de cetáceos.

Para Sílvia Monteiro, ao se compreender o papel ecológico das baleias-anãs “podemos contribuir para estratégias de conservação adaptadas a espécies múltiplas, garantindo a sua coexistência, e melhorar soluções baseadas na natureza, destinadas a restaurar os ecossistemas marinhos”.

“As baleias desempenham um papel no sequestro de carbono através do ciclo de nutrientes, que é muito importante para a produtividade marinha e, em geral, para a sustentabilidade do meio marinho e para a resiliência climática”, salienta a investigadora portuguesa.






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