Expansão humana pode ter transformado os percevejos na primeira praga urbana



Quando há 60 mil anos os nossos antepassados humanos começaram a deixar as suas grutas em África para embarcarem nas suas longas viagens para fora do continente africano e em direção à Europa e à Ásia, levaram consigo passageiros involuntários: um grupo de insetos da família dos Cimicídeos, a que hoje chamamos de percevejos.

Os que ficaram para trás, em morcegos que habitavam nas grutas dos humanos antigos, sofreram declínios populacionais constantes desde a última Idade do Gelo, há 20 mil anos. Ao passo que essa linhagem de percevejos foi sendo reduzida, aquela que se aliou aos humanos prosperou, tirando partido das comunidades humanas e, eventualmente, tornando-se a primeira praga urbana.

Essa é a conclusão de um estudo liderado por investigadores da Virginia Tech (Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia), nos Estados Unidos da América, que escrevem na revista ‘Biology Letters’ que a linhagem de percevejos que apanhou “boleia” dos humanos terá seguido um padrão demográfico semelhante ao nosso, expandindo-se por todo o mundo.

Com a transformação de pequenos assentamentos em núcleos urbanos cada vez maiores e com mais pessoas, os percevejos da linhagem humana, ao contrário dos seus parentes que ficaram nas grutas e permaneceram associados a morcegos, proliferaram. Com mais humanos a viverem muito próximos uns dos outros, era, e continuará a ser, relativamente fácil para os pequenos insetos sugadores de sangue encontrarem alimento.

De acordo com os cientistas, à medida que a população humana foi crescendo e as cidades se foram expandindo, os percevejos da linhagem humana viram um “crescimento exponencial” das suas próprias populações, numa história que entrelaçou humanos e percevejos.

No artigo, escrevem que “as primeiras civilizações surgiram há aproximadamente 10.000 anos e criaram as condições ideias para o estabelecimento e disseminação de pragas urbanas comensais”, como os percevejos. Embora a associação entre humanos e esses insetos possa ter começado há centenas de milhares de anos, muito antes de os nossos antepassados terem deixado as grutas, só quando se começaram a formar cidades e grandes aglomerações populacionais é que os percevejos a que hoje chamamos de percevejos-da-cama, classificados como pragas, conseguiram colonizar o mundo.

Uma vez que se estima que mais de metade dos humanos vivam atualmente em cidades e que até 2050 aumente para os 68%, a equipa acredita que este trabalho pode ajudar a compreender melhor como é que pragas e doenças se disseminam no contexto de populações urbanas cada vez maiores, especialmente num quadro de convulsões ecológicas que podem fazer surgir uma série de novas ameaças que colocam em risco a segurança de humanos, de animais, de plantas e dos ecossistemas em geral.






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