Fogo: aliado para algumas abelhas, ameaça para outras



Um novo estudo da Curtin University, na Austrália, concluiu que os incêndios — sejam naturais ou controlados — têm impactos muito distintos nas populações de abelhas em todo o mundo. Enquanto algumas espécies beneficiam das alterações provocadas pelo fogo, outras enfrentam riscos significativos de declínio ou desaparecimento.

A investigação, liderada pela investigadora associada Kit Prendergast, da Escola de Ciências Moleculares e da Vida da Curtin University, analisou 148 estudos internacionais para perceber como diferentes tipos de incêndio afetam as abelhas, tendo em conta fatores como a intensidade, frequência e duração dos fogos, bem como características específicas das abelhas — incluindo o tipo de ninho, tamanho corporal, dieta e comportamento social.

“Ao contrário do que se poderia pensar, nem todas as abelhas são prejudicadas pelo fogo”, explica Prendergast. “Espécies que fazem os seus ninhos no solo e que se alimentam de uma variedade ampla de plantas tendem a prosperar nas condições mais abertas e soalheiras que se seguem a um incêndio. Já aquelas que nidificam em cavidades nas árvores ou que dependem de poucas espécies de plantas para se alimentarem são muito mais vulneráveis”, acrescenta.

A investigadora destaca ainda que, apesar da crescente consciencialização sobre o declínio dos polinizadores como uma ameaça à biodiversidade e à segurança alimentar, pouco se sabia até agora sobre a forma como estes insetos respondem ao fogo — um fenómeno cada vez mais frequente e severo, impulsionado pelas alterações climáticas e por práticas de gestão de território.

Falta de investigação no Hemisfério Sul

A análise revelou ainda um desequilíbrio geográfico importante: a maioria dos estudos existentes provém da América do Norte e da Europa, enquanto ecossistemas naturalmente mais afetados pelo fogo, como os da Austrália ou da América do Sul, permanecem pouco estudados. “Isto é particularmente preocupante no caso australiano, onde temos uma enorme diversidade de abelhas nativas e uma longa história de paisagens moldadas pelo fogo”, sublinha a investigadora.

O coautor do estudo, o Professor Associado Bill Bateman, também da Curtin University, reforça que os resultados exigem uma abordagem mais personalizada à gestão do fogo. “Os incêndios não afetam todas as abelhas da mesma forma. É fundamental adotar estratégias de gestão que tenham em conta essa diversidade, como manter áreas não queimadas como refúgio, garantir a conectividade do habitat e aplicar diferentes tipos de queimadas controladas em mosaico.”

Implicações para a conservação e segurança alimentar

A equipa defende que os planos de gestão de incêndios devem integrar medidas específicas para proteger as abelhas nativas, dada a sua importância vital na polinização, no equilíbrio dos ecossistemas e na produção alimentar. “Preservar a diversidade de abelhas é essencial para garantir a resiliência dos ecossistemas face às mudanças ambientais”, conclui Prendergast.






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