Humanos já tinham domesticado o abacate antes de cultivarem milho



O abacate é atualmente um dos frutos mais apetecíveis e, por isso, também mais economicamente importantes a nível global, com a sua produção a gerar milhares de milhões de euros todos os anos.

Contudo, a história de que como os humanos domesticaram o abacate é pouco conhecida. Ou pelo menos assim era até uma equipa de mais de 10 cientistas, liderada pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (Estados Unidos da América), ter descoberto vestígios arqueológicos que ajudam a compreender as origens da nossa relação com esse fruto.

Num artigo publicado este mês na revista ‘PNAS’, é revelado que na região ocidental das Honduras já se cultivava abacate há cerca de 11 mil anos, fazendo desse local um dos primeiros em que essa prática emergiu.

Através da análise de vestígios carbonizados de abacate encontrados numa gruta hondurenha conhecida como El Gigante, os investigadores dizem que os agricultores locais já tinham dominado as técnicas de domesticação do abacate mesmo antes de terem começado a cultivar milho. E preferiam abacates maiores e com cascas mais grossas.

Vestígios de abacates encontrados na gruta El Gigante, nas Honduras, contam a história de como os agricultores antigos selecionavam os frutos, preferindo os maiores e com cascas mais duras.
Foto: Thomas Harper

“O nosso trabalho mostra que os agricultores indígenas selecionaram abacates maiores e com cascas mais grossas ao longo do tempo, o que tornou estes frutos nutritivos mais produtivos e fáceis de transportar”, explica, em comunicado, o antropólogo Douglas Kennett, um dos principais autores do estudo.

Segundo o investigador, essa seleção intencional, que terá começado há cerca de 7.500 anos, promoveu a dispersão dos abacates pelas Américas central e do sul, algo que criou as condições para que hoje seja um fruto com uma importância económica de dimensão global.

“O cultivo e a domesticação de plantas estão na base da formação de sistemas agrícolas, da expansão global das populações humanas e, em última análise, da formação de grandes cidades e de Estados-nação”, aponta Kennett, acrescentando que o abacate está agora entre as mais de duas mil plantas “economicamente importantes” que foram domesticadas pelos humanos durante os últimos 12 mil anos.

Os resultados deste estudo, dizem os autores, vêm revolucionar o conhecimento sobre a agricultura mesoamericana, que se pensava ter começado com a chegada do milho à região. Agora sabe-se que os povos antigos hondurenhos já se dedicavam à agricultura muito antes disso ter acontecido.

Olhando para o mundo de hoje, os investigadores dizem que perto de 90% de todos os abacates produzidos atualmente provêm de uma única variedade, o que gera preocupações, uma vez que a falta de diversidade genética nas culturas aumenta a vulnerabilidade a doenças e aos efeitos das alterações climáticas.

“Se todas as plantas são geneticamente iguais, então estão todas igualmente suscetíveis às mesmas limitações – por exemplo, uma nova doença ou uma mega-seca sem precedentes podem destruir uma variedade por completo”, aponta Amber VanDerwarker, primeira autora do artigo.

Os investigadores acreditam que o segredo para tornar as culturas de abacate mais resilientes num planeta em transformação poderá estar nas populações de abacate antigas que se encontram na América central.

“Desenvolver novas variedades através da seleção de sementes de variedades domesticadas modernas e de populações selvagens antigas que crescem por toda a América central pode ter mais sucesso na adaptação das árvores a estas paisagens em mudança do que somente a propagação de clones”, acrescenta a antropóloga.





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