Incêndios e proteção dos oceanos são prioridades no regresso da Greenpeace a Portugal
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Os incêndios e a proteção dos oceanos são duas das principais frentes de batalha para as quais a Greenpeace Portugal pretende contribuir ativamente, afirmou esta segunda-feira Toni Melajoki Roseiro, diretor da delegação portuguesa da organização ambientalista.
Em declarações à Green Savers, a bordo do célebre quebra-gelo Arctic Sunrise, durante sessão de apresentação da nova organização, o responsável recordou que esta não é uma estreia da Greenpeace no país, mas sim um regresso.
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Toni Melajoki Roseiro, diretor da Greenpeace Portugal (à esquerda), Jo Dufay, presidente do Conselho da Greenpeace Internacional (ao centro) e Mike Fincken, capitão do Arctic Sunrise (à direita).
“A Greenpeace sempre teve uma presença em Portugal, ou direta ou indireta, em alianças estratégicas com outras organizações, como a Quercus ou a Plataforma Parar o Gás”, contou-nos, indicando que a abertura de um escritório físico é motivada pela “urgência de proteger principalmente os oceanos e da ratificação do Tratado de Alto-mar”, salientando que a fiscalização de práticas insustentáveis, especialmente ao nível da pesca, em águas portuguesas ainda é insuficiente para proteger a biodiversidade.
Além disso, destacou que Portugal tem uma das maiores zonas económicas exclusivas do mundo, e a maior da União Europeia, pelo que “faz todo o sentido que uma organização que tem ao seu dispor barcos esteja em Portugal”.
O trabalho do novo escritório não pára na fronteira nacional, com o responsável a indicar que será também foco as sinergias ibéricas para abordar temas que dizem respeito a Portugal e Espanha, como os rios, os incêndios e “a destruição da costa ou a pesca ilegal”.
Ainda que a Greenpeace Portugal, enquanto delegação de direito próprio, se tenha estreado há poucos dias, Roseiro relevou que está já a ser preparado um documento, entre Portugal e Espanha, relativamente aos incêndios que têm vindo a afetar ambos os países, fenómenos intensificados pelas alterações climáticas, e que estarão já a ser feitos esforços no sentido de fazer chegar ao Governo um “apelo urgente” para ratificar o Tratado de Alto-Mar, que visa proteger os ecossistemas marinhos que estão além das jurisdições nacionais.
Da agenda da organização portuguesa constam também reuniões com os partidos políticos, com o objetivo de “estabelecer um diálogo, explicar o que a Greenpeace está cá a fazer e quais são as suas exigências”, disse-nos o responsável, e isso incluirá ainda o Governo.
Numa análise ao que se faz em Portugal ao nível de ambiente, Roseiro reconhece que têm sido conseguidos avanços positivos, “mas temos de ser muito mais ambiciosos”, numa mensagem também dirigida à atual liderança governativa.
“Portugal tem de liderar, de estar na vanguarda, a nível de ambiente na Europa, e tem tudo para consegui-lo”, apontou, salientando que tem faltado “sentido de urgência” na ação climática, em particular, e ambiental, no geral.
O diretor da Greenpeace Portugal recordou que os cientistas há muito que vêm alertando o mundo para as crises que hoje enfrentamos, e os avisos continuam. “Por essa razão, não podemos esperar”, declarou.
Roseiro reconhece que continua a persistir um hiato entre a urgência proclamada pela Ciência e a ação política, e admitiu, como uma das razões que levou a Greenpeace Internacional a abrir mais um escritório, que “avizinham-se tempos estranhos e cinzentos com o negacionismo e, por isso mesmo, não podemos permitir que todos os avanços que foram conseguidos depois de muita luta, durante todos estes anos, caiam agora por terra”.
A ministra do Ambiente e Energia, Maria da Graça Carvalho, fará esta tarde uma visita ao navio Arctic Sunrise, ancorado no Porto de Lisboa. Questionado sobre que mensagem a Greenpeace passará à governante, Roseiro não adiantou detalhes, mas disse que esse primeiro encontro servirá para “abrir um diálogo com o Governo português”.
Durante a sessão de apresentação à imprensa, Jo Dufay, presidente do Conselho da Greenpeace Internacional, lembrou que Portugal é um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, destacando os impactos ambientais, mas também sociais e económicos, que os incêndios florestais têm tido no país. “Está na altura de chamar as pessoas e o Governo para agirem”, sentenciou.
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O Arctic Sunrise, navio com 50 anos que durante os primeiros 20 serviu para a caça à foca e contra o qual a própria Greenpeace lançou ações diretas antes de o ter adquirido à cerca de três décadas, estará ancorado no Cais da Rocha do Conde de Óbidos até ao próximo dia 19, após o que zarpará em direção ao Porto de Leixões, no Porto, onde poderá ser visitado pelo público: no dia 21 das 13h às 18h, no dia 22 das 10h às 18h e no dia 23 das 10h às 13h. Depois, partirá para o norte de Espanha, para outra ação da Greenpeace.