Mistério resolvido: Como se preservou a pele de um peixe fóssil com 52 milhões de anos



Uma equipa internacional liderada pela Curtin University, na Austrália, desvendou o enigma por detrás da preservação excecional da pele de um peixe fóssil com 52 milhões de anos, revelando novos dados sobre a forma como tecidos biológicos frágeis podem resistir ao tempo profundo.

O estudo, publicado na revista Environmental Microbiology, analisou um exemplar notavelmente bem conservado da espécie extinta Diplomystus dentatus, encontrado na região conhecida como “Fossil Basin”, no estado norte-americano do Wyoming. O fóssil mantém ainda pele e escamas fossilizadas em estado quase intacto.

Apesar de o peixe ter sido preservado num microambiente com níveis elevados de oxigénio — condição que normalmente aceleraria a decomposição dos tecidos — os investigadores descobriram que a degradação inicial das gorduras da pele acabou por criar um ambiente propício à formação de minerais fosfatados. Estes minerais substituíram rapidamente o material orgânico, facilitando o processo de fossilização.

Durante a decomposição da pele, foram libertados ácidos gordos e iões de hidrogénio, alterando a química envolvente de forma a favorecer a preservação por fosfatos. Esta reação bloqueou a formação de depósitos carbonatados, que habitualmente contribuem para a decomposição dos tecidos.

A investigadora principal, Amy Elson, da Escola de Ciências da Terra e Planetárias da Curtin University, sublinha que as conclusões do estudo desafiam ideias há muito estabelecidas sobre o papel do oxigénio na fossilização.

“Habitualmente associamos a preservação de tecidos moles a ambientes com pouco oxigénio, ou anóxicos, porque o oxigénio tende a acelerar a decomposição”, explica a cientista. “Mas este caso mostra que, mesmo em contextos ricos em oxigénio, certas condições químicas muito específicas podem proteger tecidos delicados durante dezenas de milhões de anos”, adianta.

A investigação contou também com a participação do Professor Kliti Grice, fundador do Centro de Geoquímica Orgânica e de Isótopos da Austrália Ocidental e bolseiro ARC Laureate, que considera que os resultados têm implicações que vão além da paleontologia.

“Esta descoberta alarga a nossa compreensão sobre os processos de fossilização e sobre os ambientes químicos que permitem a conservação de materiais biológicos”, afirma. “Além de nos ajudar a reconstituir a história evolutiva da Terra, este conhecimento pode inspirar novas formas de preservação de tecidos em medicina, orientar a exploração de recursos energéticos e minerais e até contribuir para técnicas de sequestro de carbono nos sedimentos — uma ferramenta importante no combate às alterações climáticas”, acrescenta.

“É mais um exemplo de como o estudo do passado profundo do planeta pode trazer soluções para os desafios do presente e do futuro”, conclui.






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