Pesca de arrasto de fundo na Europa custa à sociedade 11 mil milhões de euros todos os anos



A pesca de arrasto de fundo – prática piscatória que envolve arrastar grandes redes pelo leito marinho – custa à sociedade até 10,8 mil milhões de euros por ano, sobretudo devido às emissões de dióxido de carbono (CO2) geradas pela perturbação de sedimentos marinhos.

A conclusão é de um estudo coordenado pelo programa Pristine Seas da National Geographic, que foi divulgado esta terça-feira e que avalia os impactos económicos dessa “prática de pesca prejudicial”, como descrevem os autores, nas águas da União Europeia (UE), Reino Unido, Noruega e Islândia.

Pesca de arrasto de fundo no Mar Mediterrâneo.
Foto: National Geographic Pristine Seas

Embora reconheçam que a pesca de arrasto de fundo seja uma fonte de empregos e de receitas e que seja parte das cadeias de abastecimento alimentar, os investigadores sentenciam que “os custos excedem largamente os benefícios”.

“Contas feitas, a pesca de arrasto de fundo impõe um custo líquido sobre a sociedade europeia de entre 330 milhões e 11 mil milhões de euros por ano, sobretudo devido aos custos sociais das enormes quantidades de CO2 que são emitidas pela perturbação dos sedimentos do leito marinho”, afirma, em comunicado, Katherine Millage, investigadora do Pristine Seas e primeira autora do estudo.

Estima-se que em 60% das áreas marinhas protegidas (AMP) na Europa esteja a ser feita pesca de arrasto de fundo, sendo que 13% desse tipo de pesca na Europa acontece nessas zonas. No contexto da UE, 20% da pesca de arrasto de fundo acontece em áreas marinhas protegidas.

Enric Sala, explorador residente da National Geographic, fundador do Pristine Seas e um dos autores do estudo, afirma que “a pesca de arrasto de fundo na Europa está a devastar a vida marinha em mais de metade das áreas que supostamente estão protegidas por lei”.

O investigador, em nota, defende que proibir essas práticas nas áreas marinhas protegidas “beneficiaria a vida oceânica, o clima e até a própria indústria pesqueira”.

“É uma solução em que todos ganham”, assegura Sala.

De acordo com os autores, os governos europeus gastam cerca de 1,3 mil milhões de euros em subsídios à pesca de arrasto de fundo, um valor que, segundo eles, equivale ao valor gerado pelos empregos nessa indústria. Em contrapartida, a pesca de arrasto de fundo contribui apenas 2% da proteína animal consumida na Europa, dizem.

Itália, Noruega, Dinamarca, Reino Unido e Suécia são os países europeus que atribuem os maiores subsídios a essa atividade, aponta o estudo.

“Acabar com a pesca de arrasto de fundo nas áreas marinhas protegidas da Europa não só é bom para o ambiente”, diz Sala, como “é essencial para poupar milhares de milhões em custos públicos”.

Para o explorador, a mudança de paradigma que os autores defendem “poupará dinheiro aos contribuintes, protegerá a vida marinha, impulsionará a indústria pesqueira e ajudar-nos-á a combater o aquecimento global”.

Este estudo é divulgado na mesma altura em que um grupo de organizações não-governamentais – Oceana, Seas At Risk e ClientEarth – instam os governos da Europa a colocarem em marcha planos para o progressivo abandono de práticas piscatórias destrutivas, como a pesca de arrasto de fundo, nas áreas marinhas protegidas (AMP) até 2030.

Esta coligação aponta que passou já um ano do prazo limite para os Estados-membros da UE, ao abrigo do plano de ação comunitário adotado em fevereiro de 2023 para proteger 30% dos mares europeus, apresentarem os seus próprios planos para acabaram progressivamente com a pesca de arrasto de fundo nas suas AMP. Portugal é um dos países da UE que ainda não apresentou qualquer plano, segundo as organizações.

Até ao momento, apenas a Bulgária, o Chipre, a Alemanha, a Letónia, a Lituânia, a Polónia, a Roménia, a Eslovénia e Espanha apresentaram planos para acabar, de forma faseada, com a pesca de arrasto de fundo em AMP nas suas respetivas jurisdições nacionais.






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