População de abutre-preto cresceu timidamente em 2025. Sucesso reprodutor diminuiu
O projeto LIFE Aegypius Return anuncia os resultados da época de reprodução de 2025 do abutre-preto (Aegypius monachus) em Portugal. A população nacional continuou a crescer, mas a um ritmo mais moderado. O sucesso reprodutor diminuiu ligeiramente e a espécie demonstrou vulnerabilidade face a várias ameaças, foi divulgado em comunicado.
Segundo a mesma fonte, o projeto LIFE Aegypius Return iniciou no final de 2022 com o objetivo de melhorar as condições ecológicas que permitissem consolidar o regresso do abutre-preto a Portugal, quatro décadas após a sua extinção enquanto espécie reprodutora.
Em 2022 estimava-se que as quatro colónias então conhecidas – Douro Internacional, Serra da Malcata, Tejo Internacional e Herdade da Contenda – totalizassem apenas cerca de 40 casais reprodutores. O projeto LIFE Aegypius Return definiu como objetivo implementar ações de conservação que permitissem duplicar este número, alcançando pelo menos 80 casais distribuídos por cinco colónias até 2027.
Eis os principais marcos da evolução da espécie, nos últimos anos:

Em 2024 foi descoberta uma quinta colónia, que atualmente abrange os concelhos de Vidigueira e Portel, com grande relevância para a conservação da espécie no Alentejo.
Crescimento tímido após forte expansão em 2023–2024
Na época de reprodução de 2025, o aumento no número de casais nidificantes face a 2024 (108-116 casais) foi bastante tímido: foram registados 119 a 126 casais, que produziram 56 crias recrutadas para a população. Importa notar que 25 a 26 destes casais e 16 das crias pertencem a ninhos localizados em território espanhol, uma vez que várias colónias são transfronteiriças.
O sucesso reprodutor em 2025 baixou ligeiramente, de 0.51 para 0.50 (significa que apenas 50% das posturas resultaram em crias recrutadas para a população). Este decréscimo poderá estar associado ao mau tempo registado durante o inverno e às vagas de calor do verão, evidenciando a vulnerabilidade do abutre-preto aos eventos meteorológicos extremos – agravados pelas alterações climáticas – e a outros fatores não controláveis.

Ameaças à sustentabilidade da espécie
Em 2025, foram vários os fatores que condicionaram a reprodução do abutre-preto, incluindo eventos meteorológicos extremos, como tempestades no inverno e ondas de calor no verão, e o incêndio que lavrou mais de 10.000 hectares do Parque Natural do Douro Internacional.
A colónia do Douro, reestabelecida em 2012, tinha crescido até oito casais em 2024. O incêndio destruiu completamente dois ninhos e afetou outros seis, em diferentes graus. Confirmou-se a morte de duas das cinco crias nascidas, havendo suspeita da morte de outras duas. Está em curso um plano de emergência para recuperar o habitat e sustentar a manutenção da colónia.
As várias colónias estão também ameaçadas pela forte expansão de projetos de energia renovável, com a instalação de novos aerogeradores e linhas elétricas nas proximidades dos ninhos, aumentando o risco de mortalidade por colisão e eletrocussão. Por sua vez, os parques solares inutilizam vastas áreas de alimentação ou de potencial expansão da espécie. Todos estes empreendimentos implicam ainda elevados níveis de perturbação, tanto durante a construção como na fase de exploração, comprometendo a tranquilidade essencial ao sucesso reprodutor do abutre-preto.
O abutre-preto continua também exposto a ameaças bem conhecidas, como o envenenamento, o tiro e a perturbação.
Com mais dois anos de trabalho pela frente, no âmbito do LIFE Aegypius Return, os parceiros permanecem firmemente empenhados em alcançar os melhores resultados possíveis para assegurar um futuro sustentável para a espécie.
A monitorização do abutre-preto em Portugal é realizada pelos parceiros do projeto LIFE Aegypius Return e conta com o apoio do ICNF, Rewilding Portugal, Quercus, e Agentes del Medio Ambiente das Juntas de Castela e Leão, de Extremadura e de Andaluzia.