Porque é que precisamos de expandir a procura de microalgas amigas do ambiente
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À medida que se intensificam os esforços globais para combater as alterações climáticas, as microalgas destacam-se como um recurso subutilizado, mas promissor.
Um novo estudo destacou a capacidade das microalgas como solução para a luta contra as alterações climáticas, mas os investigadores alertam para a necessidade de uma “bioprospecção inteligente de microalgas” para libertar todo o seu potencial.
O estudo destaca a vasta capacidade, em grande parte inexplorada, das microalgas para mitigar as emissões de CO2 e, ao mesmo tempo, impulsionar uma indústria sustentável.
“As microalgas têm propriedades notáveis que fazem delas uma ferramenta ideal para combater as alterações climáticas”, afirma a autora principal, a candidata a doutoramento Joan Labara Tirado, da Universidade de Tecnologia de Sydney (UTS).
O artigo de revisão, The need for smart microalgal bioprospecting, foi recentemente publicado na revista Natural Products and Bioprospecting.
Para além do sequestro de CO2, as microalgas são muito promissoras como “fábricas celulares” que podem transformar o carbono capturado em produtos valiosos.
“As microalgas têm um crescimento incrivelmente rápido, absorvem CO2 a uma taxa muito mais elevada do que as plantas terrestres e não competem por terras aráveis, o que as torna uma opção viável para a captura sustentável de carbono e aplicações industriais”.
Estas aplicações incluem biocombustíveis, produtos farmacêuticos, fontes alimentares com elevado teor de nutrientes e até mesmo o tratamento de águas residuais, em conformidade com os princípios de uma economia circular. Exemplos de sucesso incluem a Spirulina, que é amplamente utilizada como superalimento, ou a Dunaliella salina, uma fonte primária de β-caroteno para as indústrias cosmética e alimentar.
Apesar de serem promissoras, a utilização industrial das microalgas ainda está a dar os primeiros passos. “Neste momento, estamos apenas a arranhar a superfície”, afirmou Labara Tirado. Apenas uma pequena fração dos milhares de espécies de microalgas foi estudada, deixando muitas oportunidades inexploradas para a inovação climática.
“Existem milhares de espécies de microalgas por descobrir, cada uma com propriedades potencialmente únicas que podem transformar sectores como a bioenergia, a medicina ou os bioplásticos”.
A bioprospecção – a procura sistemática de recursos biológicos valiosos – desempenha um papel crucial na identificação e desenvolvimento de novas estirpes de microalgas para aplicações industriais e ambientais.
Este processo envolve a descoberta de novas espécies, a análise das suas propriedades bioquímicas e a avaliação do seu potencial para contribuir para soluções climáticas.
Embora as microalgas sejam frequentemente aclamadas pelo seu potencial de captura de carbono, um dos principais obstáculos à expansão do sequestro de carbono com base em microalgas é o custo.
“Estas barreiras de custo têm atrasado a adoção generalizada, limitando a viabilidade comercial das microalgas nos esforços de captura de carbono”, afirma Labara Tirado.
A descoberta de novas espécies de microalgas com taxas de crescimento mais elevadas, maior eficiência na absorção de CO2 ou menor necessidade de recursos poderá reduzir drasticamente estes custos.
“Ao identificar e aproveitar espécies que se desenvolvem em condições ambientais variadas ou que requerem um mínimo de insumos, os investigadores podem abrir caminho para soluções de sequestro de carbono economicamente mais viáveis”, diz Labara Tirado.
“Mas para lá chegarmos, precisamos de um maior investimento na bioprospecção inteligente de microalgas – utilizando tecnologia avançada e métodos de investigação para encontrar e desenvolver novas estirpes para aplicações industriais e ambientais.”
Labara Tirado não se limita a sublinhar os desafios; o seu doutoramento dedica-se ao pioneirismo de novas técnicas de bioprospecção inteligente destinadas a acelerar a descoberta de novas espécies de microalgas.
No entanto, o financiamento direcionado, a inovação e as iniciativas de investigação são cruciais para a expansão das soluções baseadas em microalgas.
“A crise climática exige soluções não convencionais e as microalgas têm o potencial de desempenhar um papel importante na transição para um futuro mais verde.”
“Precisamos de agir agora através da investigação, do apoio político e de parcerias industriais para aproveitar plenamente o seu potencial”, conclui.