Sanguessugas são 200 milhões de anos mais antigas do que se pensava e as primeiras não sugavam sangue

Um fóssil de uma espécie de sanguessuga até agora desconhecida revela que esses invertebrados são muito mais antigos do que se pensava e que os primeiros exemplares desse grupo de animais não se alimentavam de sangue.
Na revista ‘PeerJ’, cientistas do Canadá, Estados Unidos da América e Brasil revelam ter identificado uma nova espécie de sanguessuga, batizada com o nome científico Macromyzon siluricus. O fóssil, desenterrado no estado norte-americano do Wisconsin, terá por volta de 430 milhões de anos, mais 200 milhões do que os fósseis anteriormente considerados como os mais antigos.
O animal tem uma ventosa caudal, na parte traseira do corpo, tal como várias sanguessugas modernas, e um corpo segmentado em forma de lágrima. No entanto, ao contrário das sanguessugas com as quais estamos familiarizados, a M. siluricus não dispõe da ventosa frontal com a qual várias espécies modernas quebram a pele e sugam o sangue dos seus hospedeiros.

A ausência desse traço distintivo e o facto de o fóssil ter sido encontrado numa formação geológica numa zona que, há milhões de anos, estaria coberta por mar, leva os investigadores a sugerirem que esta nova espécie do grupo dos hirudíneos terá vivido em ambientes oceânicos e ter-se-á alimentado de invertebrados sem concha, engolindo-os de um só trago ou consumindo os seus fluidos internos.
“Alimentar-se de sangue exige uma maquinaria muito especializada”, explica, em comunicado, Karma Nanglu, um dos principais coautores do artigo. “Anticoagulantes, peças bucas e enzimas digestivas são adaptações complexas”, detalha, pelo que “faz mais sentido que as primeiras sanguessugas tenham engolido as presas inteiras ou talvez bebido os fluidos internos de animais marinhos pequenos e de corpo mole”.
A descoberta do fóssil é, em si, algo de assinalar. Isto, porque as sanguessugas são animais invertebrados, sem ossos, sem conchas e sem exosqueletos, pelo que a sua preservação em fóssil só foi possível graças a uma conjugação fortuita e rara de condições, como níveis reduzidos de oxigénio, uma composição geoquímica peculiar e envolve normalmente a quase imediata cobertura do animal por uma camada de sedimentos.
A formação onde a nova espécie foi encontrada é conhecida por presentear frequentemente os cientistas com fósseis relativamente bem preservados de animais de corpo mole.
“Um animal raro e o ambiente ideal para a sua fossilização. É como ganhar a lotaria duas vezes”, confessa Nanglu.
De recordar que, apesar da ideia que possamos ter sobre estes animais sinistros, as sanguessugas modernas têm vários tipos de corpo, formas diferentes de se alimentarem e podem viver em zonas de água doce, de água salgada e até em terra.
Algumas espécies têm mandíbulas munidas de dentes com os quais mordem os hospedeiros, outras possuem estruturas semelhantes a agulhas (as probóscides) que espetam no corpo dos hospedeiros e com as quais sugam os seus fluidos internos. Ainda outras não têm nem mandíbulas nem probóscides e engolem as suas presas inteiras.