“Sexto sentido”: Larvas de moscas-da-fruta são capazes de detetar campos elétricos

O mundo natural está cheio de capacidades que, se algum humano as tivesse, seria considerado um super-herói digno de sagas cinematográficas.
A lista é infindável, mas uma equipa internacional de cientistas acaba de acrescentar a esse já extenso rol mais uma habilidade extra-humana, desta feita pertencente às larvas da mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster). Embora a descrevam como um “sexto sentido”, a capacidade em questão não permite a esses animais verem almas penadas, mas sim detetarem campos elétricos.
A eletro-receção, como é designada, não é incomum no reino animal, sendo usada, por exemplo, por tubarões para encontrarem presas no vasto oceano ou debaixo da areia, ou pelas abelhas para navegarem pelas paisagens em busca de alimento e das melhores flores. Mas um artigo publicado recentemente na revista ‘Current Biology’ é o primeiro a atribuir essa habilidade às moscas-da-fruta.
Segundo a investigação, as larvas dessa espécie têm nas suas cabeças neurónios que lhes permitem captar os campos elétricos, e, mostram os resultados, são preferencialmente atraídas pelo potencial elétrico negativo.
Matthieu Louis, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (Estados Unidos da América) e um dos principais autores do estudo, explica que, para os humanos, os campos elétricos pouco significam, na medida em que não somos capazes de senti-los só com os nossos sentidos biológicos. No entanto, diz o investigador em comunicado, “cada vez mais se reconhece que, para muitos animais, é algo realmente muito importante”.
Em laboratório, a equipa colocou uma larva de mosca-da-fruta numa superfície de gel com pequenos poros através da qual corria um campo elétrico, e viram que o animal se deslocava para o elétrodo negativo.
Ainda está por descobrir, no entanto, que utilidade terão as larvas das moscas-da-fruta para a deteção de campos elétricos, mas os cientistas sugerem que poderá ajudá-las a navegar pelos frutos em decomposição dentro dos quais elas nascem e se desenvolvem.
Louis explica que, como essas larvas alcançam a forma adulta em apenas alguns dias após o nascimento, têm de encontrar rápida e eficazmente os locais dos frutos com as polpas mais moles, com maiores concentrações de açúcar e com menos teor de álcool, uma vez que esse último é produzido em frutos em decomposição e pode ser prejudicial ao desenvolvimento das larvas.
A fermentação pode criar um gradiente elétrico que os animais usam para se orientarem, diz o investigador.
Outras possíveis explicações apontam para adaptações defensivas contra predadores. As vespas são dos principais predadores das larvas da mosca-da-fruta e os insetos voadores, segundo os investigadores, tendem a emitir cargas elétricas positivas, pelo que, sendo atraídas por cargas negativas, as larvas talvez consigam evitar tornar-se na próxima refeição.
Ou pode ser uma combinação de ambas, salienta Julia Riedl, segunda autora do artigo, “conduzindo-as para a parte mais favorável de um fruto e afastando-as também de um ataque de vespa”.