Tolerância social é fundamental na aprendizagem dos macacos-capuchinhos
A transmissão de conhecimento e práticas é um elemento central dos grupos de animais sociais. Indivíduos mais velhos e experientes são poços de sabedoria que podem permitir aos mais novos adquirir ferramentas para interpretar e singrar no mundo à sua volta, o que é essencial para a sua sobrevivência.
Essa aprendizagem social acontece normalmente através da observação: enquanto os mais velhos fazem a sua vida, os mais novos observam-nos atentamente. Por isso, é indispensável que aceitem a presença, por vezes muito próxima, uns dos outros.
Investigadores das universidades de Durham (Reino Unido) e de São Paulo (Brasil) estudaram a transmissão de conhecimentos em dois grupos de macacos-capuchinhos da espécie Sapajus libidinosus no Parque Nacional da Serra da Capivara, no estado brasileiro do Piauí. Nessa região semiárida, um bioma conhecido como Caatinga, os cientistas perceberem que a tolerância social é “extremamente importante para a aprendizagem social”.
E essa tolerância pode ser conseguida através da criação e manutenção de o que se poderia chamar de “laços de amizade”. Isto, porque, no artigo publicado na revista ‘PNAS’, a equipa revela que os macacos-capuchinhos que costumam participar em atividades coletivas, como desparasitação e brincadeiras, conseguem adquirir novas capacidades, através dos ensinamentos passados por outros membros do grupo, mais do que aqueles que não se envolvem nesse tipo de interações.
Assim, os macacos que brincam com outros membros do grupo ou que os ajudam a manter o pêlo saudável terão mais hipóteses de aprender algo com eles. A aprendizagem destes primatas, como tal, não se limita àquilo que conseguem descobrir por si próprios, pois eles procuram ativamente aprender com os que mais sabem.
Eduardo Ottoni, um dos autores do artigo, estuda macacos-capuchinhos no Brasil desde a década de 1990 e fez parte dos primeiros estudos que mostraram que estes animais usam ferramentas e que os indivíduos transmitem conhecimento uns aos outros.
Em comunicado, o investigador diz que “a descoberta do uso de ferramentas e da aprendizagem social entre os macacos-capuchinhos foi um golpe de sorte para nós, que resultou na descoberta de uma série de processos culturais não-humanos”. Para ele, “quanto mais estudamos, mais percebemos que a evolução cultural é parte de algo maior no contexto da própria evolução biológica”.