O enigma das pedras que “andam”
Algumas destas pedras, localizadas num lago seco, plano e rodeado por montanhas, chegam a pesar 300 quilos. Apenas em algumas épocas do ano, o lago enche com as águas das chuvas, que rapidamente se evaporam. Os cientistas Richard e James Norris, juntamente com Ralph Lorenz, Jib Ray e Brian Jackson, publicaram na revista científica ‘Plos One’ uma explicação para este misterioso fenómeno, que já vem sendo estudado desde a década de 1940.
Recorrendo a uma estação de meteorológica, fotografias e equipamentos de GPS, verificou-se que o movimento das pedras ocorre em condições climáticas específicas, quando as chuvas criam uma superfície de água que congela durante a noite.
Até aqui, existiam várias teorias para explicar o fenómeno, algumas delas bastante exóticas, atribuindo o movimento das pedras a campos de energia poderosos, ao magnetismo da Terra e até mesmo a extraterrestres. Em 1948 o primeiro artigo sobre este mistério foi publicado no ‘Geological Society of America’s Bulletin’ e sugeria que o movimento das rochas se devia ao vento. Acontece que seriam necessários ventos muito fortes para mover aquelas pedras. Nos anos 70 foram monitorizadas 30 rochas durante sete anos. No entanto, nada lhes aconteceu.
Ponto fim a este mistério, os investigadores da Scripps Institution of Oceanography da Universidade da Califórnia, em San Diego, chegaram à conclusão que as pedras se moveram por acção da brisa do vento, apesar de leve, e do gelo de um antigo lago.
“Quando chove de noite, o que é raro naquelas paragens, folhas de gelo muito finas, semelhantes a pequenos estilhaços de vidro, entranham-se no solo e derretem quando o sol nasce no Vale da Morte, tornando o chão lamacento e escorregadio. O vento trata depois de pôr as pedras em movimento.”
Para que possa ocorrer, é preciso que tenha chovido e que a temperatura baixe a cerca de 0º C antes que a água evapore. Por fim, o vento precisa de ter força suficiente para mover as placas e, junto com elas, as rochas. “É preciso estar lá no momento certo, só que o momento certo, normalmente, coincide com a fase menos hospitaleira daquele local”, disse Ralph Lorenz. É preciso muita sorte para ver este raro acontecimento como explica Richard Norris: “estávamos sentados numa montanha a apreciar a vista quando começou a soprar um vento leve que provocou fissuras no gelo. De repente, todo o processo se desenrolava ali, diante dos nossos olhos”.
Mas há uma boa razão para que o movimento destas rochas não tenha sido captado antes. “Elas estão numa área remota, de difícil acesso e protegida, onde não se pode acampar e há muitas restrições quanto ao material que as equipas podem levar para lá”, explicou Lorenz.