Equipa portuguesa faz nova descoberta com grande potencial no combate a vírus e parasitas



Uma equipa interdisciplinar de várias instituições científicas nacionais, liderada pela Universidade de Coimbra (UC), fez uma descoberta que pode abrir portas para uma nova geração de medicamentos com potencial de aplicação na prevenção e tratamento de múltiplos tipos de infeções virais, endémicas e pandémicas, e também doenças parasitárias, como a malária.

A molécula testada, designada BSS730A, que é derivada da penicilina, foi descoberta no âmbito do projeto Spiro4MALAIDS e resulta de vários estudos realizados ao longo dos últimos nove anos pelo Grupo de Química Orgânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). O projeto é coordenado pela professora Teresa Pinho e Melo, do Departamento de Química da FCTUC, e tem a participação dos investigadores Américo Alves (FCTUC), de Miguel Prudêncio, do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, de Inês Bártolo, da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, e de Nuno Taveira, do Instituto Universitário Egas Moniz.

“A molécula apresentou uma atividade notável contra os diferentes vírus e parasitas testados. Em concentrações muito baixas, a eficácia na inibição das infeções atingiu os 99 por cento”, revela Nuno Alves, aluno de doutoramento da FCTUC e membro da equipa.

Os resultados obtidos, sublinha, indicam que a nova molécula “tem um comportamento completamente diferente dos medicamentos que se encontram no mercado. Enquanto os antivirais convencionais atuam sobre a maquinaria do próprio vírus, a molécula BSS730A atua ao nível do hospedeiro, promovendo uma resposta do próprio hospedeiro conta o vírus. Um mecanismo deste tipo, para além de ter um perfil farmacoterapêutico inovador, está muito menos sujeito ao desenvolvimento de resistências por parte dos vírus”, ou seja,”verificou-se que a molécula mostrou ser ativa contra estirpes multirresistentes dos mesmos vírus”, explica.

Os investigadores acreditam que existem boas perspetivas para “inativar outros vírus para além dos estudados”. “É uma molécula que poderá ter atividade para novas ameaças virais que possam emergir no futuro, representando uma nova geração de medicamentos antivirais e antiparasitários de largo espectro, muito mais eficazes do que os atuais”, afirma o investigador do Departamento de Química da FCTUC, destacando ainda outra particularidade da molécula descoberta, sobretudo ao nível da estrutura e farmacologia: “apesar de ser proveniente da penicilina, usada no tratamento de infeções causadas por bactérias, a BSS730A não tem qualquer atividade antibacteriana, mas sim antiviral e antiparasitária, no caso do parasita da malária”.

Agora, a equipa pretende avançar com a realização de ensaios clínicos dentro de três anos. No entanto, para que tal se concretize, é necessário obter financiamento, que neste caso se estima que seja de dois milhões de euros. Justamente com o objetivo de angariar financiamento que permita avançar com o desenvolvimento desta tecnologia disruptiva, está em fase de conclusão a criação de uma Startup.

O projeto Spiro4MALAIDS foi recentemente distinguido no concurso “Born from Knowledge Ideas” (BfK Ideas), na área da saúde, promovido pela Agência Nacional da Inovação (ANI). Este concurso visa impulsionar a transferência de conhecimento para o tecido empresarial.





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