Investigadores da Universidade de Aveiro criam “chá” de grafeno para extrair metais pesados da água



À primeira vista parecem saquetas de chá e, na verdade, são. Mas ao contrário do que poderia pensar, estes saquinhos não servem para fazer infusões mas sim para descontaminar águas contaminadas com metais potencialmente tóxicos, como o mercúrio. Dentro das saquetas não há, por isso, folhas nem flores, mas óxido de grafeno, que os investigadores da Universidade de Aveiro (UA) descobriram ter a capacidade de purificar a água.

Os estudos feitos pela equipa de cientistas demonstraram que, com apenas dez miligramas de óxido de grafeno por cada litro de água contaminado com 50 microgramas de mercúrio, foi possível remover, ao fim de 24 horas, cerca de 95% desse metal perigoso para o ambiente e para a saúde humana.

“Não existe no mercado um produto que apresente as características deste”, assegura a coordenadora da equipa, Paula Marques, do Departamento de engenharia Mecânica da UA, cita o jornal online da instituição. “Foi já efectuada uma experiência comparativa com carvão activado, o material mais comummente utilizado para este tipo de aplicações, tendo o óxido de grafeno mostrado uma eficiência muito superior”, acrescenta a investigadora.

O novo produto foi apresentado no final de Junho na Semana Internacional do Grafeno 2015, em Manchester, e encontra-se já patenteado, tendo suscitado o interesse de algumas empresas portuguesas. Além da elevada eficiência na remoção de metais pesados da água, a principal vantagem do produto é a facilidade de síntese e o baixo custo de produto. Obtido a partir da exfoliação química da grafite, o óxido de grafeno pode ser produzido em grande escala.

O sistema inovador desenvolvido pela equipa de cientistas da UA – que além de Paula Marques é composta por Gil Gonçalves, Mercedes Vila, Bruno Henriques e Maria Eduarda Pereira – pode ser aplicado em locais sem infra-estruturas específicas para descontaminar águas com metais, nomeadamente o mercúrio, o cádmio e o chumbo. Basta colocar os saquinhos e retirá-los puxando pelo fio quando a limpeza estiver concluída.

“A ideia dos saquinhos de chá surgiu como forma simples, barata e eficaz para suportar a espuma de óxido de grafeno”, explica Paula Marques, indicando ainda que este suporte evita a dispersão das partículas de óxido de grafeno, que têm tendência a desagregar-se na água.

Esta nova aplicação ambiental para o grafeno dos investigadores da UA pode vir a ajudar a resolver o problema global da água contaminada com metais tóxicos, que é libertada nos sistemas aquáticos do planeta, pois nem os sistemas de descontaminação mais avançados e caros conseguem taxas de remoção como os saquinhos de chá de grafeno.





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