Paula Viegas, CGD: “A forma de ser da empresa determina a atitude de cada um dos seus colaboradores”
Em entrevista exclusiva ao Green Savers, a directora de sustentabilidade da Caixa Geral de Depósitos fala dos projectos sociais da empresa portuguesa, do programa Young VolunTeam, que destaca, e revela que o projecto de voluntariado da Entrajuda, apoiado pela empresa, já “convenceu” 32.000 pessoas.
Finalmente, e a pedido do Green Savers, a profissional dá conselhos a outras empresas – grandes e pequenas – sobre como podem fazer que o voluntariado seja realmente impactante numa determinada comunidade.
A CGD tem desenvolvido várias acções de voluntariado nos últimos anos, com diferentes públicos-alvo e objectivos. Qual a importância destas acções para reforçar o ADN e missão da empresa?
A prática do voluntariado é um dos meios utilizados no exercício da responsabilidade corporativa da CGD, incentivando a participação activa dos colaboradores na implementação da Política de Envolvimento com a Comunidade. Paralelamente, ao sensibilizar para a importância dos temas da sustentabilidade, como o ambiente, a educação financeira e o apoio social, estamos a firmar princípios éticos e a contribuir para o necessário desenvolvimento sustentável.
De todas a acções de voluntariado da CGD, qual destaca e porquê?
O Programa Young VolunTeam, criado em 2012. Porque é, e podemos afirmá-lo, um caso de sucesso no que concerne à promoção do voluntariado junto dos jovens, com resultados bastante significativos que revelam o impacto não apenas nos jovens mas também nas escolas e nas suas comunidades circundantes.
Outro aspecto igualmente relevante é o facto de o programa ter sido desenhado de modo a poder envolver os colaboradores da CGD. Como? Por exemplo, o colaborador voluntário selecciona uma das escolas inscritas e apoia o trabalho do grupo de alunos ao longo do ano lectivo, ajudando-os, e também a própria a escola, a desenvolver os seus projectos, estabelecendo os contactos com entidades externas sempre que necessário. Podem, ainda, promover acções específicas que contribuem para os objectivos da “sua” escola. No passado ano lectivo, através de uma parceria com o Rock in Rio que visava equipar dezenas de salas de estudo de IPSS associadas da Entrajuda, os colaboradores CGD participaram na venda de pulseiras solidárias, em conjunto com as escolas, angariando nesse contexto €51.544,61 para aquele fim.
A CGD apoiou a criação de uma bolsa de voluntariado, em 2006. Como está este projeto e quantas pessoas já se inscreveram?
A Bolsa do Voluntariado é um ponto de encontro entre a procura e a oferta de trabalho voluntário, nomeadamente por área e numa óptica dinâmica, razão porque recolheu o apoio da Caixa Geral de Depósitos. Estamos desde a primeira hora com a Entrajuda, promotora deste projecto inovador em Portugal e transversal a toda a sociedade, no âmbito de um exercício pleno de Cidadania e Ética e na assumpção da responsabilidade social comum às duas instituições. Mais de 32.000 voluntários e cerca de 2.000 instituições e empresas contribuem, diariamente, para uma sociedade mais justa e inclusiva.
Quantas horas de voluntariado desenvolveram os colaboradores da CGD nos últimos anos?
São muitas dezenas de milhares de horas que os colaboradores da CGD têm dedicado ao voluntariado e às suas diferentes causas. Seja respondendo a demandas de comunidades circundantes, a iniciativas de entidades como o Banco Alimentar, a Junior Achivement Portugal entre mais, mas também com iniciativas próprias entre as quais, pela simbologia e importância e talvez com um entendimento um pouco irreverente do conceito de voluntário, a formação do Grupo de Dadores de Sangue, que acaba de festejar 32 anos e mais de 7.000 dadores activos que anualmente entregam milhares de unidades de sangue e de medula óssea para ajudar a salvar vidas nos hospitais e equipas de emergência, em Portugal.
De que forma a CGD apoia e motiva os seus colaboradores para fazerem voluntariado?
A criação do Programa Voluntariado Caixa, em 2014, que representa o conjunto de iniciativas da CGD para com a comunidade, dá continuidade a uma prática histórica que faz parte da nossa cultura interna: a vontade de ajudar através da partilha de conhecimento – educação financeira – e do envolvimento com as comunidades para a inclusão social, financeira e digital, reforçando uma política de responsabilidade social estruturante e sustentada.
Quais as principais conclusões que receberam do Young Volunteam, até agora, e os próximos passos da iniciativa?
A implementação do Young VolunTeam (YVT) nas escolas do Ensino Secundário permite a criação de um novo espaço de cidadania activa, com oportunidades de aprendizagem e de participação que promovem não só a solidariedade mas também a mobilidade, a curiosidade, a abertura para mundo e o empreendedorismo dos alunos.
Em termos quantitativos, no final de três edições, coincidentes com os anos lectivos 2012-2013, 2013-2014 e 2014-2015, 2.680 alunos embaixadores mobilizaram, ou seja, impactaram 120.960 colegas nas suas escolas e dinamizaram sessões de formação para o voluntariado no Ensino Básico. Promoveram centenas de acções, campanhas e projectos de voluntariado, desenvolveram inúmeras parcerias, beneficiando mais de 550 entidades. Ao todo angariaram mais de oito toneladas de bens alimentares, quatro toneladas de livros, roupas e brinquedos, 66.610 euros e recolheram mais de 20 toneladas de materiais para reciclagem, incluindo plásticos e pilhas.
Os jovens são um público nuclear neste tema?
São. Sobretudo os jovens do Ensino Secundário que participam no YVT actuam ao longo do ano como embaixadores e agentes de mudança nas suas escolas, implementando as várias acções propostas no âmbito do programa e disseminando os valores do voluntariado e da cidadania, não só entre os colegas como junto de alunos de outros ciclos, das suas famílias e das comunidades locais. São também responsáveis por dinamizar sessões de sensibilização sobre estes temas junto de alunos do Ensino Básico e realizando acções de voluntariado no próprio espaço escolar e junto da comunidade envolvente. A organização e implementação destas sessões de formação no ensino básico proporcionaram aos alunos um sentimento de valorização e reforçaram os laços entre diferentes faixas etárias e escolas participantes, originando projectos conjuntos.
Muitas das vossas iniciativas têm como elo comum a Entrajuda. De que forma esta instituição vos ajuda a levar os vossos projetos de voluntariado para um número cada vez maior de pessoas?
O conhecimento, as competências e a experiência da Entrajuda no capítulo do voluntariado, em Portugal e no estrangeiro, são indiscutíveis.
Quanto investe a CGD por ano nos projetos de voluntariado?
Como é natural os valores variam de ano para ano, dadas as circunstâncias a que todos estamos sujeitos e estão espelhados, nomeadamente, nos relatórios de sustentabilidade anuais.
A recessão de 2008 e 2009, que ainda não acabou, levou muitas empresas a centrarem-se no seu core business e a colocarem de lado algumas das acções ligadas às comunidades. Como podemos chamar de volta estas empresas à sustentabilidade social?
Pelo exemplo. A recessão, a conjuntura, os desafios actuais – internos e externos – e os que conseguimos antever perspectivam uma mudança na atitude e na gestão sustentadas na ética, nos valores universais, nomeadamente os associados aos direitos humanos, e na transparência enquanto atributo de uma comunicação simples, clara e verdadeira. Pelos resultados positivos observados na sociedade e nas economias decorrentes de estratégias empresariais com visão.
E, não menos importante, pela “voz” da própria sociedade civil e pela exigência das gerações mais jovens, conscientes a médio e longo prazo dos impactos causados por fórmulas de gestão e atitudes, hoje, incapazes de garantir o futuro prometido. Pensar global, agir local continua a ter razão de ser, aliás mais do que nunca. Sophia de Mello Breyner afirmava: “vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar”. O sucesso e o futuro de qualquer empresa tem hoje uma dimensão ética e mundial.
Pegando na sua experiência profissional, que conselhos daria a outras empresas, grandes ou pequenas, para lançarem e desenvolverem iniciativas de voluntariado que sejam realmente impactantes numa determinada comunidade?
O voluntariado é uma ferramenta que qualquer empresa tem ao seu dispor para, numa dimensão interna, enriquecer os valores da cultura organizacional, incentivando a colaboração, a humildade e a iniciativa, favorecendo o alinhamento de cada colaborador com a marca e a imagem corporativa, com os colegas de trabalho e hierarquias, investindo, também, na valorização individual através do retorno gerado pelas acções. Numa vertente externa, a empresa mostra a dimensão da sua responsabilidade e a sua consciência para com outros desafios que não os estritamente ligados ao seu core business, clarifica valores para além do negócio, activando o reconhecimento emocional da marca e transferindo esse benefício para a confiança na fidelização e na captação de clientes. Uma empresa é uma comunidade de pessoas que, sob objectivos comuns, se enriquece de diferentes sonhos, ambições, desafios, limitações e necessidades que se encontram, também, no mercado alvo, na sociedade, noutras empresas ou parceiros, no potencial cliente ou em qualquer cidadão. A forma de ser da empresa determina a atitude de cada um dos seus colaboradores, circunscreve a presença da marca e do negócio, no mercado e face à concorrência, legitimando, ou não, a opção de escolha dos seus públicos ou equilibrando a capacidade de negociação e de atracção de investimento.
No fim desta equação, o saldo é positivo e todos ganham. Porque dar é receber.