O Rio+20 e a luta das classes médias
Mais cedo ou mais tarde, o caro leitor vai ter de mudar de vida. A grande pergunta é “quando?”. Esta é a percepção da maioria dos executivos e negociadores que estão a preparar a conferência Rio+20. O negociador-chefe do Brasil, André Corrêa do Lago, não foge à regra.
“Os pobres estão a tornar-se na classe média, e não se achava que isso iria acontecer tão rápido. Entre China, Brasil, Índia e outros países em desenvolvimento, estamos a levar centenas de milhões de pessoas para a classe média. Estas pessoas estão a consumir mais, o que é uma óptima notícia, e também é verdade que isso representa um desafio para o ambiente”, explica o embaixador
“A solução não é restringir o consumo deles (…) mas sim um esforço mundial para que não haja uma divisão deste género: a classe média americana pode ter quatro carros e a classe média indiana tem de andar de bicicleta”, argumenta André Corrêa do Lago.
Segundo o embaixador, os países em desenvolvimento têm de se preocupar com as emissões de CO2 e as consequências da entrada de milhões de pessoas na classe média mundial, mas não pode, aceitar que “vá haver duas classes médias, duas categorias diferente”:
“Os países desenvolvidos, em vez de se preocuparem tanto com o que está a acontecer nos países em desenvolvimento, deveriam mostrar o caminho. Um dos princípios do Rio 92 é a mudança dos padrões insustentáveis de produção e consumo, com os países desenvolvidos a tomar a liderança. Temos de criar uma ideia de classe média que seja atraente o suficiente para europeus e americanos, para indianos e brasileiros”, continuou o responsável.
Numa entrevista publicada ontem no jornal brasileiro Valor Econômico, André Corrêa Lago diz que o Rio+20 não é uma conferência de ambiente, mas de desenvolvimento sustentável, em que o objectivo passar por fundar uma agência para o desenvolvimento sustentável, que fortaleça a governança internacional deste tema.
“O que tem de sair do Rio de Janeiro não é o fortalecimento simplesmente do meio ambiente. é o fortalecimento do desenvolvimento sustentável, do tratamento equilibrado entre económico, ambiental e social. Os europeus dizem que o Brasil está a tirar o foco do Rio+20. Quem está a tirar o foco são eles, colocando apenas o pilar ambiental na mesa”, concluiu.