Como combater a escassez de água na agricultura? Conheça o exemplo de Kothapally



Até 2050, a população mundial deve passar dos actuais sete mil milhões para nove mil milhões de pessoas, pelo que poderá não ser possível conseguir alimentar toda a população dentro de quatro décadas, segundo as estimativas da Organização das Nações Unidas.

De acordo com um artigo de Jerome Bossuet, especialista em comunicação e marketing do Instituto de Pesquisa de Colheitas da Índia para os Trópicos Semi-Áridos (ICRISAT, sigla em inglês), no The Guardian, para alimentar nove mil milhões de pessoas, “será preciso aumentar a produção agrícola em 70%. Mas, dada a actual crise alimentar global, aumentar a produção agrícola certamente vai aumentar a escassez de água”.

Perante este cenário, o especialista sugere que, para diminuir a fome e a insegurança alimentar, terá de haver um uso mais intensivo e sustentável da água e dá como exemplo Kothapally, uma comunidade rural na região semi-árida de Andhra Pradesh, na Índia, onde os agricultores utilizam hoje em dia a água da chuva, de forma eficiente.

“Há trinta anos atrás, Kothapally era uma região pobre, com secas recorrentes, que obrigavam muitas famílias a imigrar. Naquela altura, o governo de Andhra Pradesh pediu ao ICRISAT, para explorar soluções de conservação de água da chuva de baixo custo, com o objectivo de melhorar o rendimento das culturas da região”, explicou.

O ICRISAT, juntamente com o Comité de Bacia Hidrográfica de Kothapally e ONGs locais, desenvolveu sistemas de recolha de água simples e métodos de conservação eficazes, abrindo caminho para a mudança na região.

270 famílias de agricultores de Kothapally acabaram por construir estruturas de recolha de água da chuva, como barragens para evitar o seu escoamento para tanques ou poços, e diques para impedir a erosão do solo.

Paralelamente, um grupo de mulheres dedicou-se à produção de vermicomposto (compostagem com minhocas) e à sua comercialização, ajudando os agricultores a aumentar os níveis de matéria orgânica no solo e a melhorar a capacidade do solo reter a água.

“O progresso de Kothapally mostra como uma abordagem de longo prazo e participativa pode realmente funcionar. Uma aldeia, que sofria de escassez de água – incluindo a água potável – e de pobreza até 1998, é agora uma vila, rodeada de verde, que ostenta uma cultura saudável e produz vegetais de alto valor, mesmo nos meses de Verão”, explicou Bossuet.

“Na agricultura uma boa gestão de água não depende apenas do investimento em sistemas de bombeamento de alta tecnologia, mas também da promoção de práticas locais de recuperação, conservação, gestão e uso eficiente da água da chuva, nas áreas agrícolas subdesenvolvidas”, concluiu.





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