Rio+20: porque razão ninguém fala dele em Portugal?



Há dois anos e meio, a Cimeira de Copenhaga – o COP15 – foi amplamente falada e noticiada em Portugal. Vista como uma das mais importantes conferências ambientais de sempre, a Cimeira do Clima da capital dinamarquesa foi, durante os seus 11 dias – e nos meses anteriores -, um dos assuntos mais comentados em Portugal.

Passaram quase três anos e eis-nos na contagem decrescente para uma nova cimeira das Nações Unidas, o Rio+20. Uma das mais importantes cimeiras de sempre relacionada com a economia verde e o desenvolvimento sustentável, o Rio+20 tem o condão de não só comemorar os 20 anos da Cimeira da Terra, de 1992, como realizar-se no Brasil, um dos Países que mais está na moda em Portugal: é para lá que as empresas portuguesas se querem internacionalizar, é em terras brasileiras que já vivem muitos dos melhores profissionais portuguesas, à procura da pujança da sua economia de BRIC.

Então, porque razão não se fala, em Portugal, no Rio+20. “O contexto agora é muito diferente. Há um tema que domina grande parte da atenção pública e mediática, que é o da crise. Dentro do próprio País, a actividade na área da sustentabilidade é bastante débil – sobretudo no Governo, mas também nas empresas – por falta de dinheiro e pelo entendimento de que é preciso fazer a economia crescer a qualquer custo”, explicou ao Green Savers o jornalista Ricardo Garcia.

Em Dezembro de 2009, Ricardo Garcia foi o enviado do jornal Público a Copenhaga. Hoje, este é um luxo a que muitos jornais não podem recorrer. “Os próprios órgãos de comunicação social estão mais debilitados, em termos de recursos. As redacções estão cada vez mais pequenas e o número de jornalistas especializados está a diminuir. Isto já acontecia em 2009, quando ocorreu Copenhaga, mas nessa altura havia uma enorme expectativa em torno daquela cimeira, que gerou um interesse maior”, explica agora Ricardo Garcia. “O Rio+20 não está a criar nada parecido em termos de expectativa”, concluiu o jornalista.

Segundo o director-executivo da Oikos, João José Fernandes, há explicações para esta falta de interesse português no Rio+20, mas a justificação “não existe”. “As explicações estão relacionadas com a tradicional apatia dos cidadãos e das instituições portuguesas com a política internacional e com a cooperação para o desenvolvimento. Esta tendência acentuou-se nos últimos anos – desde 2008 – com a crise económica e com as medidas de austeridade em que o nosso país está mergulhado”, revelou o responsável ao Green Savers.

Segundo João José Fernandes, quando muitos portugueses têm o “prato meio vazio”, dificilmente têm “paz de espírito para reflectir sobre as inevitáveis consequências do esgotamento dos recursos naturais, da perda de biodiversidade, das alterações climáticas, da crise energética ou da inexistência de soberania alimentar do nosso país”.

“O imediatismo é sempre um mau conselheiro, mas é o que fala mais alto. As organizações da sociedade civil (por exemplo as ONGD e as ONGA) sentem hoje mais dificuldades no agendamento político de causas globais do que em 1992 ou 2002. A explicação é simples: menos apoio efectivo por parte de uma classe média em empobrecimento e falta de respeito por parte dos governantes e do Estado”, continuou o responsável.

Em 1992 e em 2002, a delegação oficial portuguesa ao Rio de Janeiro e a Joanesburgo foi preparada e integrou elementos de organizações da sociedade civil. “A falta de visibilidade do Rio+20 na comunicação social decorre do alheamento dos cidadãos, da impotência das organizações da sociedade civil, da apropriação indevida por parte das grandes empresas em torno do discurso do desenvolvimento sustentável (greenwashing) e da ignorância – e falta de mundo – de uma boa parte dos nossos líderes políticos”, de acordo com o director-executivo da Oikos.

Pouca mobilização das ONG

O alheamento da sociedade está também relacionado com a pouca mobilização das ONG. “Raramente surge informação quanto ao Rio+20 vinda das ONG, com excepção de algumas, como a Quercus ou a Oikos. Outras instituições também estão pouco activas”, explica Ricardo Garcia.

“A Oikos é pioneira” – avisa João José Fernandes. “Mesmo perante [alguns] os constrangimentos, estamos envolvidos na promoção de duas iniciativas de grande envergadura e potencial: uma campanha e petição a nível mundial para a criação de Provedores de Justiça para as Gerações Futuras; e na promoção de uma União Global para a Sustentabilidade”, explica.

Os Provedores de Justiça para as Gerações Futuras, de acordo com o responsável, são figuras independentes dos Governos, com poderes de monitorização das decisões tomadas pelos Órgãos Executivos, de modo a avaliar o seu potencial impacto nas gerações futuras. Serão estabelecidos a uma base nacional e internacional.

Já a União Global para a Sustentabilidade é uma iniciativa que surgiu no Brasil e que está a ser alargada paulatinamente à América Latina, mas que pretende ser global. “A Oikos já se comprometeu a promover esta união, que visa não apenas exigir, mas actuar na promoção de sociedades mais prósperas, felizes, justas, seguras e em equilíbrio com o ambiente”, recorda o responsável.

“É um facto [que o Rio+20] é uma conferência que não está a mobilizar muito”, conclui Ricardo Garcia. “Mas acredito que, quando chegarmos perto do evento, as coisas vão mudar. Embora eu desconfie que, pelo menos em Portugal, [o Rio+20] não despertará tanto interesse como outras cimeiras da ONU”.

E o leitor, conhece alguma instituição que esteja a promover o Rio+20 em Portugal? Como podemos fazer chegar a importância da transição para a economia verde aos cidadãos portugueses? Enviem-nos as vossas propostas e ideias. E ajudem a partilhar a conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável junto dos vossos amigos e contactos.

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