Miguel Blanco: o bicampeão nacional é também um surfista ecológico
Miguel Blanco é bicampeão nacional em título e um dos surfistas do momento no surf nacional e europeu, mas não é só pelos prémios que o atleta se distingue. Recentemente, assumiu o seu lado ambientalista e admitiu ser um “surfista ecológico”. A Green Savers entrevistou-o e ficou a conhecer um pouco mais sobre a sua história e a sua ligação ao ambiente.
O início
Foi aos 7 anos que Miguel Blanco descobriu a paixão pelo surf, em São Pedro do Estoril. “Eu tinha muita energia mas não me identificava com nenhum desporto até que, como gostava de praia, veio o surf! A minha mãe meteu-me numa escolinha de surf local e mal fiz as primeiras ondas, fiquei aficionado!”
Conta que passou muitas horas na praia e no mar, e acredita que esse contacto o levou a não conseguir ignorar questões ambientais como o plástico e a poluição nos oceanos.
“Foi há cerca de 5 anos que comecei a tomar consciência que tínhamos de fazer algo para começar a mudar os nossos hábitos pois a quantidade de lixo na praia e no mar é absurda”, explica. Na Indonésia, numa das suas viagens, começou a aperceber-se mais do problema.“Estava a surfar ondas épicas algures em Bali e, estando apenas eu e o fotógrafo Diogo D’Orey no lineup, deparei-me na enorme quantidade de lixo (maioritariamente plástico) que se encontrava no mar e na praia.”
Quando questionado se já presenciou uma situação idêntica em Portugal, o surfista afirma “Já. Várias vezes”. “A mais recente foi na Praia de São Pedro do Estoril. Fiquei revoltado com a quantidade de lixo que encontrei e esse foi o principal motivo por ter organizado uma beach clean up nesta praia onde cresci. Também no porto de abrigo na Nazaré, recolhi uma enorme quantidade de lixo que estava na rampa onde colocam os barcos e jetskis no mar. Quero acrescentar que viajo muito e por isso já vi muita coisa. Desde ilhas literalmente cobertas de lixo na Ásia, como estradas cercadas de lixo em África.” Ainda assim, admite que “Portugal está no bom caminho em relação a muitos países mas claro há muita coisa que podemos melhorar e cabe a cada um de nós ter essa consciência.”
Afinal, o que fez e faz o surfista no seu dia a dia, para criar um mundo mais “verde”?
“Comecei pela simples acção de recolher e deitar no lixo os pedaços de plástico que encontrava no mar quando ia surfar. Para além de reciclar, quando vou ao supermercado utilizo sempre os meus sacos de pano, evito ao máximo comprar produtos descartáveis ou embalados em plástico e faço um compost em casa tentando diminuir a minha pegada ecológica. A verdade é que a solução está na diminuição do lixo e não na reciclagem. Praticamente não consumo carne, a minha dieta é maioritariamente vegetariana, consumindo produtos locais ecológicos e biológicos” ou seja, “evitar produtos importados e de grandes supermercados pois são os que menos pensam nestes temas”, afirma.
A comunidade surfista
Miguel Blanco considera que os surfistas são os “embaixadores dos oceanos” e como tal, têm “uma responsabilidade acrescida”. Assim, o próprio surfista garante: “Quero ter uma voz activa na minha comunidade, e não só, para que tenhamos mais consciência do nosso impacto no ambiente.”
“Em 2020 comecei a organizar alguma recolhas de lixo com o objetivo de deixar as praias mais limpas e aumentar a consciencialização ambiental”, revela, acrescentando que este mês vai “desenvolver uma ativação com a associação Oceanos Sem Plásticos” de forma a transmitir a sua mensagem “de sensibilização da poluição nos oceanos a alunos de uma escola de surf e juntamente com eles fazer uma limpeza das arribas. Acredito que passar a mensagem aos mais novos é extremamente importante”, declara.
Relativamente ao seu papel na comunidade surfista, o próprio não deixa de lado a hipótese de criar uma campanha em seu nome. “Acredito que organizar beach clean ups é apenas o começo. Somos quase como embaixadores naturais dos oceanos e por isso temos de ser os primeiros a proteger o mar, as ondas e todo o seu ecossistema.”
“Integrar o surf e a ecologia parece-me algo tão natural” afirma, “Vivemos no mar, praticamente, e temos de dar algo em retorno ao oceano, que sempre nos proporcionou momentos inesquecíveis. Temos de ter um papel ativo. É fundamental!”