Entrevista. “As Reservas da Biosfera são laboratórios vivos de sustentabilidade”, António Abreu, biólogo
Foi em 1972, mais precisamente em Estocolmo, na Suécia, que se realizou a primeira Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Em dezembro do mesmo ano, a Assembleia Geral das Nações Unidas designou o dia 5 de junho como o Dia Mundial do Ambiente. Esta data pretende alertar para os desafios ambientais que a sociedade enfrenta, promovendo ao mesmo tempo a luta pela proteção do planeta. Em 2022, foi definido o tema “Uma Só Terra”, que promove a ação coletiva para celebrar, proteger e restaurar o nosso planeta Terra.
Para marcar este dia, a Green Savers conversou com António Abreu, biólogo, investigador da Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Coimbra e coordenador geral do projeto “Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes”, para dar a conhecer um pouco deste projeto e da sua importância para o nosso país.
No que é que consiste o “Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes”?
Este projeto integra-se no âmbito dos EEA Grants 2014-2021, do qual a Secretaria geral do Ministério do Ambiente e Ação Climática é a operadora do Programa “Ambiente, Alterações Climáticas e Economia de Baixo Carbono”, e tem como principais objetivos promover o conhecimento sobre as reservas da Biosfera portuguesas, dinamizar a capacitação ao nível da sua gestão e dos atores relevantes destes territórios, e promover a comunicação acerca das reservas da Biosfera portuguesas numa lógica de cooperação entre elas e outras reservas da Biosfera da UNESCO, em particular as dos países doadores dos EEA Grants, designadamente a Noruega. Pretende-se reforçar o reconhecimento e valorização destes territórios singulares, dos seus ativos naturais, culturais e identitários, estimulando a conservação da natureza como pilar do desenvolvimento socioeconómico e o bem-estar das populações.
Que Reservas da Biosfera integram o projeto?
O projeto abrange a totalidade das reservas da Biosfera da UNESCO portuguesas, que são atualmente doze. Seis destas reservas localizam-se nas regiões autónomas da Madeira (Santana e Porto Santo) e Açores (Corvo, Graciosa, Flores e S. Jorge) sendo as outras seis no continente: Paúl do Boquilobo, Castro Verde, a que se juntam três reservas transfronteiriças: Gerês/Xurês, Meseta Ibérica e Tejo/Tajo Internacional.
O que é necessário para que uma área seja classificada como Reserva da Biosfera?
Os requisitos exigidos pela UNESCO para que um território seja classificado como reserva da UNESCO, incluem a existência de valores naturais (biodiversidade, ecossistemas) representativos da região biogeográfica em que se inserem, e com estatuto de proteção assegurado a nível nacional, a que se junta imperativamente áreas com presença humana e de atividades socioeconómicas. São, por definição, territórios que encerram um património natural importante ao nível da biodiversidade e ecossistemas, mas também uma identidade cultural e património tangível e intangível igualmente importante. A estes ativos, naturais e culturais, associa-se o compromisso de procurar, através do diálogo e concertação, formas de promover a conservação e utilização sustentável desse património, reforçando a resiliência ambiental e social, face aos desafios das mudanças globais.
Que importância têm estas Reservas?
As Reservas da Biosfera constituem-se como laboratórios vivos de sustentabilidade, nos quais os atores relevantes dialogam e participam na procura de soluções e caminhos mais sustentáveis valorizando a sua identidade natural, cultural e patrimonial, ao mesmo tempo que cooperam com outras reservas, a nível nacional e internacional, partilhando soluções para problemas comuns. São instrumentos de promoção e valorização dos territórios que estimulam o conhecimento, a inovação e a procura de formas alternativas mais sustentáveis para uma gestão equilibrada das relações entre a espécie humana e a natureza.
Quais são as próximas atividades a desenvolver no âmbito do projeto?
O projeto inclui 80 atividades muito diversificadas ao nível do conhecimento, capacitação e comunicação. No domínio do conhecimento, o mapeamento dos ecossistemas e dos serviços de ecossistemas existentes em cada reserva, a par da recolha de memórias, património tangível e intangível, são atividades centrais para a definição de iniciativas de conservação e promoção destes territórios.
Ao nível da capacitação, o projeto promove ações de capacitação para os gestores das reservas da biosfera, mas também para atores locais, designadamente sobre gestão de projetos, procura de financiamentos, dinamização de empreendorismo, valorização de produtos e serviços.
Ao nível da comunicação e divulgação, o projeto promoveu as Olimpíadas das reservas da Biosfera que mobilizaram milhares de estudantes de todo o país e desenvolveu uma estratégica de Comunicação e Marketing para as reservas da biosfera portuguesas associada à criação da marca reservas da Biosfera portuguesas, como instrumento de promoção e comunicação conjunta destes territórios.
Será organizado um Festival das reservas da Biosfera com edição em Portugal Continental e nas Regiões Autónomas, exposições itinerantes, e diversas iniciativas piloto de divulgação e valorização de produtos destas reservas. Será também criada uma infraestrutura digital que suportará o conhecimento, divulgação e gestão das reservas da biosfera, promovendo a multidisciplinaridade e a ciência cidadã, procurando motivar diferentes públicos para utilização das reservas da biosfera como palco de diferentes atividades de interesse científico, artístico, mas também socioeconómico.