República Democrática do Congo. Florestas tropicais podem dar lugar à exploração de petróleo



As florestas tropicais e turfeiras da República Democrática do Congo estão sob ameaça, num momento em que o Governo pretende avançar com a exploração de petróleo e gás. Esta mudança surge pela necessidade de estabilidade financeira do país, num período em que os preços do petróleo aumentaram devido à guerra na Ucrânia.

Em entrevista ao The New York Times, Tosi Mpanu Mpanu, Especialista em Alterações Climáticas do Ministério do Ambiente, Conservação e Turismo da República Democrática do Congo, afirmou que a prioridade do país “não é salvar o planeta” e que existe a necessidade dos países mais ricos – que enriqueceram à custa dos combustíveis fósseis – compensarem o país, tanto por não explorar os grandes recursos que têm nos solos, como por proteger a sua floresta que é um grande sumidouro de carbono.

De recordar que a República Democrática do Congo tem as maiores turfeiras do mundo, que absorvem uma quantidade de carbono equivalente a 10 anos de emissões globais, e que a Bacia do Congo tem a segunda maior floresta do mundo, que absorve cerca de 1,5 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano. Além disso, o Parque Nacional de Virunga é o habitat de um terço dos gorilas-das-montanhas (Gorilla beringei beringei), que se encontra em risco de extinção.

O Ministério de Hidrocarbonetos anunciou a abertura do concurso para atribuir 27 blocos de petróleo e 3 de gás, nos dias 28 e 29 de julho. A exploração de petróleo deve decorrer na Bacia Costeira (6.000 km2), na Bacia de Graben Tanganyika (50.200 km2) e na Bacia Central (800.000 km2), ocupando um total de 856.200 km2. Já a exploração de gás, deve decorrer no Lago Kivu. Estima-se que o país tenha recursos para 22 mil milhões de barris de petróleo e 66 mil milhões de m3 de gás metano.

Face a esta situação, várias Organizações Não-Governamentais de Ambiente (ONGA) congolesas e internacionais, entre as quais a Greenpeace África, lançaram uma petição no início do mês para pedir que Félix Tshisekedi, Presidente da República Democrática do Congo, travasse esta situação. A petição conta, de momento, com 114.767 apoiantes, mas o objetivo é chegar às 150.000 assinaturas.

“Apenas seis meses depois de assinar um acordo de proteção florestal de 500 milhões de dólares na COP26, o governo congolês está a declarar guerra ao nosso planeta com petróleo e gás. O preço imediato será pago pelas comunidades congolesas, que não têm conhecimento do leilão, não foram consultadas ou informadas sobre os riscos para a sua saúde e meios de subsistência”, aponta Irene Wabiwa Betoko, líder de Projeto Internacional para a Floresta da Bacia do Congo da Greenpeace África.

Por sua vez, Charity Migwi, ativista da organização ambiental 350.org, refere que este “é um movimento para condenar o país e a sua rica biodiversidade à destruição. Há muito em jogo para o emprego e a saúde das pessoas, sem mencionar os impactos da crise climática e os abusos dos direitos humanos que estes projetos de combustíveis fósseis vão causar.”





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