Metas climáticas só serão atingíveis com “milagre tecnológico”



O economista Eduardo Catroga defendeu hoje, em Lisboa, que as metas climáticas, como atingir a neutralidade carbónica em 2050, só serão possíveis com “milagre tecnológico”, que não se perspetiva no horizonte.

“As metas só seriam atingíveis com um milagre tecnológico, que ainda não vi no horizonte. Há esperanças no hidrogénio, tecnologia nuclear, reatores, no desenvolvimento das capacidades de armazenamento, mas isso exige tempo”, afirmou Eduardo Catroga, que falava na conferência que assinala o 6.º aniversário do Jornal Económico.

O antigo ministro defendeu que a transição energética e as dificuldades e desafios associados já se colocavam antes de invasão da Ucrânia pela Rússia.

Para Catroga, uma política energética coerente está assente em três pilares – equilíbrio, segurança energética, custos e competitividade e ambiente.

Contudo, “os ventos políticos” dão mais prioridade ao primeiro e segundo pilares.

“A situação atual é que, desde 1965 e até antes da última crise, os combustíveis aumentaram três vezes o consumo a nível mundial. A quota das fontes de energia primária tem-se mantido estável à volta dos 80%”, assinalou.

Assim, quando queremos fixar metas para 2030 ou 2050 temos que tomar em consideração que os compromissos assumidos pelos vários Governos não têm sido cumpridos na totalidade, acrescentou o antigo ministro.

Apesar de referir que o progresso tecnológico, verificado nos últimos 10 anos, permitiu reduzir os custos nivelados, Catroga notou que os custos totais, que incluem os associados ao armazenamento, bem como o “desfasamento” na procura total de energia continuam a aumentar.

“O discurso político não tem sido coerente nesta matéria”, concluiu.

No mesmo sentido, o presidente executivo da GreenVolt, João Manso Neto, concordou que o caminho “é difícil”, mas sublinhou ser necessário pensar o que se pode fazer com a tecnologia que já está disponível.

Para Manso Neto, o caminho passa pelas renováveis e, tal como a Comissão Europeia já apontou, o principal problema é o licenciamento, a aprovação de projetos.

“O crescimento das renováveis pode ser maior se formos mais eficientes. Temos noção que há outros valores em causa que não só a descarbonização, como históricos ou de património. Ninguém se lembra de por painéis solares nos Jerónimos. Seria absurdo”, referiu.

Por sua vez, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta, vincou que a Europa já percebeu, “á muito tempo”, que tem que diminuir a sua dependência de combustíveis externos.

Ainda assim, a guerra na Ucrânia veio revelar que a opção estratégica, particularmente da Alemanha, tem que ser acelerada.

“Para países como Portugal, já há muitos anos que percebemos que a opção por combustíveis fósseis não podemos suportar”, referiu.

Presente na mesma sessão, subordinada ao tema “Portugal, a Europa e a Transição Climática e Energética”, o presidente executivo da Finerge, Pedro Norton, considerou que “Portugal tem estado na linha da frente” nesta matéria, apresentando objetivos claros, através, por exemplo, do roteiro para a neutralidade carbónica.

“Pelo menos desde 2005, o paradigma mudou, hoje temos mais de 60% da eletricidade produzida a partir de renováveis. Temos percorrido um caminho importante até aqui. É justo reconhecer que tem havido alguma constância das politicas publicas”, concluiu.

Vera Eiró, presidente da ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, constatou que a água é “absolutamente essencial” para o nexo da energia e para a produção de eletricidade, exemplificando que, em uma hora, são perdidas oito piscinas olímpicas nas redes.

“Aquilo que temos que fazer enquanto comunidade e pessoas individuais é valorizar esta indústria”, declarou, apontando como necessários investimentos no aproveitamento das águas residuais e na dessalinização.





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