Mais de 5.000 pessoas morrem anualmente em Portugal devido à poluição atmosférica
Todos os anos, morrem em média 5.000 pessoas prematuramente em Portugal devido à exposição a dióxido de azoto e a matéria particulada fina. As conclusões são avançadas num estudo científico publicado este ano na revista ‘Science of the Total Environment’.
Os especialistas alertem que o nível de mortalidade por exposição a esses poluentes é mais significativo nas áreas urbanas e nas zonas costeiras, sendo que o ozono é responsável por mais de 140 dos óbitos anuais. E denunciam a escassez de avaliações quantitativas que permitam estabelecer relações entre a poluição atmosférica e a mortalidade.
Numa análise regional, o estudo revela que dos 11 municípios que registam concentrações de dióxido de azoto mais elevadas, Porto, Lisboa e Guimarães surgem como as cidades com os maiores números de mortes relacionadas com a exposição a esse gás nocivo para a saúde humana, sendo “significativamente mais elevadas do que em todos os outros municípios, à exceção do Funchal”.
No que diz respeito às partículas finas, os cientistas destacam as cidades do Seixal e de Estarreja como aqueles onde se registam as maiores concentrações de dessas matérias e os mais expressivos impactos na saúde das populações. “São significativamente mais elevadas do que em mais de 50% dos outros municípios”, devido à atividade industrial, designadamente ao nível da metalurgia e da química.
Em Estarreja, a poluição atmosférica por partículas finas é agravada por ventos desérticos oriundos do Saara, de acordo com avaliações da Agência Europeia do Ambiente, que afetam a qualidade do ar de países do sul da Europa, incluindo Portugal.
O estudo aponta também a região de Alandroal como sendo uma das mais afetadas por partículas finas, embora o coletivo de especialistas argumente que tal se deva a ventos que transportam poeiras minerais do Norte de África. Ainda assim, não afastam as contribuições da atividade industrial no centro do Alentejo para a poluição atmosférica nessa cidade, salientando que “a contribuição de emissões dessas fontes não pode ser excluída”.
Relativamente ao ozono, o artigo aponta as regiões rurais e do interior do país como as mais atingidas, sendo que é também aí que se registam os valores mais baixos de poluição por dióxido de azoto e por partículas finas.
Nesse campo de análise, é avançado que embora os maiores níveis de ozono registem maiores concentrações em zonas interiores, as cidades de Viana do Castelo e de Sines apresentam também níveis bastante altos desse gás poluente, fruto das emissões industriais de ozono para a atmosfera, especialmente produzidas pelo transporte marítimo.
O estudo recorreu à ferramenta AirQ+, desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para sustentar as suas conclusões, que derivaram de análises das concentrações de poluentes atmosféricos em vários municípios de Portugal entre 2010 e 2019.
Os cientistas alertam que a concretização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), plasmados na Agenda 2030 das Nações Unidas, têm ficado aquém do desejável, particularmente no que toca aos eixos relativos a um ambiente saudável, e classificam os esforços dos vários governos do mundo como “insuficientes”.
“Em Portugal, tais insuficiências são evidentes na monitorização estatística da Agenda 2030 para o período 2010-2019”, denunciam, afirmando que existe falta de dados que permitam traçar relações entre a poluição atmosférica e os níveis de mortalidade no país.