Planetiers World Gathering: “Um dos maiores eventos internacionais” que quer inspirar um mundo mais justo e sustentável
“É um dos maiores eventos internacionais dedicados à inovação sustentável”. É com essas palavras que Sérgio Ribeiro, um dos cofundadores, descreve o Planetiers World Gathering (PWG), um encontro que decorre entre 24 e 26 de outubro, no Parque Eduardo VII, em Lisboa.
Esta quarta-feira, dia 21, decorreu a apresentação da edição deste ano, que juntou dezenas de pessoas no Instituto Superior de Agronomia.
O responsável afirma que o cerne do PWG é “reunir pessoas que possam inspirar uma audiência de outras pessoas”, algumas das quais podem ainda não saber o que é a sustentabilidade, outras poderão saber mas desconhecer como podem agir e ainda outras que já percorrem esse caminho mas querem impulsionar as suas ações.
Assim, os organizadores pretendem que no evento todas as pessoas possam “encontrar soluções reais e casos de sucesso que podem inspirar e até orientar sobre qual o caminho certo a seguir”.
A ideia de criar o PWG surgiu em 2019, mas a pandemia de Covid-19 só permitiu que o primeiro encontro acontecesse em outubro de 2020. Dois anos depois, a conferência está de volta, e Sérgio Ribeiro espera que afluam ao Pavilhão Carlos Lopes, durante os três dias, mais de cinco mil pessoas, comparativamente às cerca de mil da última edição.
Quanto à dimensão online, permitindo que participantes em todo o mundo possam assistir às várias sessões, “vamos ultrapassar as 20 mil que tivemos em 2020, e acredito que até cheguemos às 30 mil”.
Da lista de oradores, constam nomes como Ali Tabrizi, realizador do documentário na Netflix ‘Seaspiracy’, sobre o impacto da pesca no ambiente, Satya Tripathi, Secretário-Geral da Aliança Global para um Planeta Sustentável e que assumiu posições de topo na ONU no ramo do ambiente, e Gunter Pauli, conhecido como o ‘Steve Jobs da Sustentabilidade’.
Acontecendo num contexto de quase pós-pandemia, Sérgio Ribeiro avança que a participação dos convidados, designadamente dos que chegam do estrangeiro, será “muito maior”, fruto do levantamento das restrições à mobilidade internacional que marcaram os últimos anos.
Além das sessões ‘formais’, o PWG contará também com uma secção que estará aberta ao público, sem custos, para que possam também ser parte desse acontecimento.
No atual contexto geopolítico europeu, em que, pela primeira vez desde a II Guerra Mundial, o continente é assolado por um conflito militar de grande escala, e que lançou consequências profundamente negativas por todos os países da região, vários governos, perante um cenário de crise energética, estão a focar as suas atenções em assegurar as suas reservas de gás natural, e alguns têm planos para reativar centrais de produção elétrica a carvão para garantir que há o menor número possível de falhas nos meses mais frios do ano.
Contudo, isso implica que os Estados-Membros ‘tirem o pé do acelerador’ da transição energética, implementando medidas que ajudam as famílias e as empresas a suportarem os custos cada vez mais elevados da energia, mas, ao mesmo tempo, continuam a injetar dinheiro na indústria dos combustíveis fósseis e, porventura, a comprometer as metas climáticas estabelecidas.
“Esse é um dos maiores riscos nesta fase”, reconhece Sérgio Ribeiro, explicando que perante cenários de crise a “resposta imediata de sobrevivência é abrir as torneiras, sejam elas quais forem”, e voltar a “sistemas antigos”, e até incentivá-los.
O responsável adianta que é importante perceber quais a soluções e tecnologias que já hoje existem “para que esta transição seja outra”, ou seja, para que não retrocedamos no caminho até aqui percorrido, mas para que possamos continuar a dar passo em direção a um mundo sustentável e em harmonia com o ambiente.
E é precisamente esse um dos maiores desígnios do PWG, “mostrar aos decisores, ao nível político e empresarial, que já existem soluções que são práticas e viáveis economicamente”, algo que adquire uma maior importância em contexto de crise. Outro pilar-mestre é abrir as portas a vozes de todo o mundo, com perspetivas diversas e globais e ideias inovadoras, que podem servir de inspiração para líderes nos quatro cantos da Terra.
“Dependendo das ações que tomarmos agora, há um preço que pagaremos mais à frente”, acautela Sérgio Ribeiro. “Corremos o risco de estar a tapar um buraco neste momento, para, quando o passarmos, cairmos num ainda maior.”
Apontando a seca, que tem assolado toda a Europa e muitos outros países pelo mundo, como um sinal de alerta e como uma chamada urgente à ação, destaca que “ou tomamos decisões agora” a pensar como tornaremos realidade a transição energética, “ou podemos cair numa crise muito superior à que temos hoje”.
“A mudança tem de ser sistémica”, pois “só mudar uma área não permite que tudo mude, temos de mudar como gerimos a água, como produzimos energia, como consumimos, como produzimos materiais novos”, referindo aqui o papel importante a desempenhar pela economia circular.
“Acredito que o evento pode dar esta ‘open view’ de como podemos ver as coisas de outra forma e agir.”
A segunda edição do PWG acontece nas vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, a COP27, agendada para a semana de 6 a 11 de novembro, no Egipto. A esse respeito, Sérgio Ribeiro sublinha que o evento será “sem dúvida” um catalisador para essa cimeira internacional e que a organização sabe que alguns participantes do PWG estarão também presentes nessa reunião.
O objetivo é que no evento em Lisboa possam conhecer as soluções e tecnologias já existentes e que possam levar com eles essas ideias para a COP27, pois o “contágio de ideias” é um dos principais pontos fortes das sociedades humanas, diz Sérgio Ribeiro.
“Se conseguirmos que essas pessoas contagiem as COP, pelo menos 20% da sala”, então daqui a uns anos poderemos olhar para trás e perceber que foi possível criar um grupo ainda mais sólido de pessoas que acreditam que é possível mudar e continuar a caminhar em frente.
O responsável afirma que a sustentabilidade adquire hoje uma nova conotação, a da regeneração. Por outras palavras, a sustentabilidade, nesta altura, não pode ser mais olhada como apenas o uso comedido dos recursos tendo em consideração o usufruto das gerações vindouras, mas deve ser também entendida como um catalisador da recuperação do mundo natural que foi destruído pela ação, direta ou indireta, da humanidade.
“Por exemplo, um negócio agrícola pode ir para um terreno que está destruído e ver isso como um investimento, recuperando-o e regenerando-o, de forma ambientalmente responsável, elucida, acrescentando que “já existem vários casos desses”.
Questionado sobre se o conceito de sustentabilidade, usado amplamente em inúmeros contextos e, por vezes, com significados distintos, Sérgio Ribeiro diz que um dos propósitos do PWG é também rejuvenescer essa noção e devolver-lhe o seu significado.
O descrédito com que muitas pessoas podem ouvir, e usar, a palavra ‘sustentabilidade’ deriva de “saturação” por nada de consequente derivar dela, levando muitos a baixarem os braços e a desistirem da luta.
“Se as pessoas sentem que já não há esperança, desistem”, sentencia, referindo que “não quero ouvir falar sobre algo que me pressiona e sobre o qual sinto que nada posso fazer”. E o PWG “pode desconstruir isto, mostrando que há pessoas a agir no terreno, a fazer a diferença e a deixar marca”.
Para quebrar a ansiedade gerada pelo sentimento de impotência, Sérgio Ribeiro garante que “é preciso combinar a esperança com a ação, porque isso leva-nos a acreditar na mudança”, destacando que os jovens podem ser os que mais sofrem com esse desespero, mas são também eles que poderão dar os maiores contributos para construir o mundo de amanhã.
Se pudesse falar perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas, enfrentando os líderes mundiais, Sérgio Ribeiro sublinha que seria importante fazer ver a essas pessoas “a responsabilidade e o poder que têm para canalizar esforços para a inovação”, afirmando que organizações como a ONU poderiam ter um peso maior na procura de novas soluções e na aposta em pequenas ideias que se podem tornar grandes”.
Na sessão de apresentação da segunda edição do PWG esteve também presente o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, que asseverou, sem margem para dúvidas quanto à intenção, de que o país tornar-se-á “um dos destinos mais sustentáveis do mundo”, ciente de que “precisamos de mudar muitos coisas no setor do turismo e nas nossas vidas para sermos sustentáveis”.
“Não podemos continuar a fazer as mesmas coisas e a esperar resultados diferentes”, disse, apontando que “estamos certos de que este evento colocara, uma vez mais, Portugal no mapa da sustentabilidade e também da inovação”.