A perda de gelo no Ártico causará fenómenos El Niño mais fortes e mais frequentes, alertam cientistas
O El Niño é um fenómeno climático que se caracteriza pelo “aquecimento anómalo das águas superficiais do setor centro-leste do Oceano Pacífico, predominantemente na sua faixa equatorial”, explica o Instituto Português do Mar e Atmosfera (IPMA). Dessa forma, causa períodos secos ou muito secos nessa região, acontecendo, por norma, a cada quatro anos e durando entre seis e 15 meses.
Agora, um novo estudo científico, publicado em agosto na revista ‘Nature’, avança que a perda de gelo marinho no Ártico, no polo norte do planeta, “poderá ser um elemento fundamental que impulsiona significativamente a frequência de eventos El Niño fortes”.
Os cientistas explicam que “a cobertura de gelo marinho ártico tem vindo a diminuir todos os meses desde o início de 1950”, sendo que durante cada verão compreendido nesse período a área gelada tem vindo a encolher 50% sucessivamente, sem capacidade de recuperação. Os modelos preveem que antes de 2050 a cobertura de gelo no Ártico desapareça totalmente nos meses mais quentes do ano.
“Ainda não se sabe ao certo como a diminuição do gelo marinho ártico é capaz de influenciar a ocorrência de fortes El Niños, um proeminente modo de variabilidade climática com impactos globais”, reconhecem os especialistas. Contudo, argumentam que “à medida que a perda de gelo continua e o Ártico se torna sazonalmente livre de gelo, a frequência de eventos El Niño fortes aumenta em mais de um terço”.
As estimativas sugerem que entre 37% e 48% dos El Niños fortes que acontecerão até ao final do século XXI se deverão ao degelo no Ártico. Afetando diretamente esse fenómeno oceânico-atmosférico, a perda da superfície gelada no polo norte poderá aumentar a frequência e a magnitude de condições climáticas que potenciam secas, cheias e fortes tempestades.
Consequentemente, “os eventos El Niño fortes tornam-se mais frequentes, presumivelmente com impactos devastadores em todo o planeta”, alertam os cientistas.
O estudo avisa, assim, que quanto maior for a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera, maior será o aquecimento da Terra, maior será o nível do degelo no Ártico e, por fim, mais devastadores e numerosos serão os fenómenos El Niño, que trarão com eles consequências devastadoras para as populações do Pacífico, que muito provavelmente ramificar-se-ão, porventura com impactos imprevisíveis, por todo o mundo.